terça-feira, 5 de outubro de 2010

O messianismo político no Brasil

Recentemente o povo brasileiro optou, nas urnas, por um segundo turno entre os candidatos que representam os dois principais partidos políticos do país na atualidade: PT e PSDB. Quais são as diferenças entre eles? Para muitos brasileiros a resposta é "nenhuma": FHC e Lula só serviram para provar que nenhum deles presta, pois não conseguiram resolver todos os problemas do país.

Este tipo de pensamento sempre esteve presente em nossa sociedade e costuma ser chamado "messianismo político". Sua origem costuma ser apontada como a grande influência cristã em nossa formação cultural aliada à grande concentração de poder nas mãos do poder executivo ao longo da maior parte de nossa história.

Com relação à influência do cristianismo, caracterizado pela crença na vinda de um messias que irá instaurar um reino edênico na Terra, é necessário lembrar que a igreja católica chegou no Brasil com a esquadra de Cabral e era muito poderosa na época em que a identidade cultural brasileira, tal como a conhecemos atualmente, começou a se formar. Assim, o que era exclusivo ao campo religioso passou para as demais esferas, até porque naquele tempo não havia separação entre igreja e Estado: a igreja também era autoridade, assim como o governante. Mais do que isso: a crença em um único Deus deu origem à crença de que basta uma única pessoa para resolver todos os problemas do país.

Enquanto isso, no campo político houve muita concentração de poder nas mãos do executivo: o rei de Portugal, os imperadores do Brasil, os militares que proclamaram a república e os ditadores que vieram depois. Várias vezes a democracia tentou florescer em nosso país, sendo impedida por golpes de estado ou fechamentos do congresso por um poder executivo autoritário. Assim, criou-se o mito do líder supremo da nação como um super-homem dotado de plenos poderes, superestimados até o ponto de se crer que, havendo vontade política, se pode resolver todos os problemas como num passe de mágica.

Essa crença no presidente super-homem, bem como os sucessivos fechamentos do congresso nacional em momentos de grande atrito entre o executivo e o legislativo teve uma conseqüência ainda mais drástica para o Brasil: o poder legislativo não interessa a ninguém: votam em branco, no Tiririca ou em qualquer um que tem foto bonita no santinho. Deputados e senadores são vistos como meros figurantes. Só interessa o presidente: esse é quem vai resolver todos os problemas, mesmo que não tenha apoio para governar. Se não resolveu é a prova de que não presta, mesmo que grandes metas tenham sido alcançadas.


Voltando à realidade: super-homem só existe nas películas hollywoodianas. Presidente é um ser humano que precisa de uma equipe de governo, apoio popular e do congresso e colaboração das outras esferas de poder. Temos que ter paciência e consciência que os problemas da nação, que são muitos, não serão sanados de um dia para o outro. Que tal basearmos nossas críticas em ações e projetos dos candidatos ao invés de continuar buscando uma idealização?

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