segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A educação em SP

Sou paulista e estudei em escola pública até a oitava série do fundamental, ou seja, de 1990 (pré-escola) até 1998 (oitava série), último ano do primeiro mandato de Mário Covas no governo de SP e de FHC no governo federal.


Na minha época a escola pública oferecia ensino muito melhor do que oferece hoje. Os alunos de 2a série sabiam ler, embora com certa dificuldade, coisa que os alunos de 5a série de hoje não sabem. Os professores podiam reprovar os alunos, o que lhes garantia autoridade na sala de aula. Além disso, a aprovação servia como prêmio aos alunos mais dedicados e a reprovação era uma punição aos que não estudavam. Além disso, mudaram também o método de alfabetização: trocaram a cartilha pelo método construtivista.

Não sou contra a alfabetização por este método, implantado em SP pelo governo tucano. Conheço gente que foi alfabetizada em escolas particulares por este método e garante que adorou e aprendeu muito, mas essa não é a realidade da escola paulista pela simples razão de que o governo faz tudo pela metade: uma ex-aluna de escola construtivista (que foi alfabetizada há quase 20 anos em uma instituição particular) me contou que eram duas professoras cuidando de uma sala com 25 alunos. O mesmo método funciona na escola paulista, com 40 alunos em uma sala com uma única professora. O Serra diz na tv que as escolas agora têm duas professoras. Em quantas? Duas? Seis? Vinte? Basta visitar a escola mais próxima para descobrir que isso está distante da realidade da maioria dessas instituições, assim como o ensino integral.

O fato é que além de ter que alfabetizar por um método inadequado à condição da escola, o professor primário de SP ainda tem outro desafio: com a aprovação automática, o professor do segundo ano precisa cuidar dos alunos em fase com a programação do segundo e dos que estão defasados, sendo que os níveis de defasagem podem variar muito, assim como há os alunos mais adiantados. Assim fica difícil o acompanhamento e a própria justificativa para se separar os alunos por série fica comprometida: os alunos devem ser agrupados de acordo com o nível de conhecimento de cada um, para permitir que o professor acompanhe seu aprendizado de maneira mais eficaz.

Passemos ao ensino médio: como estudante de licenciatura, tive que fazer estágio em uma escola estadual e a realidade que encontrei foi muito abaixo das minhas expectativas: o professor não tinha autoridade em sala de aula e os alunos não se importavam em estudar porque sabiam que iriam ser aprovados de qualquer jeito. O diretor se recusava a lidar com alunos indisciplinados argumentando que lugar de aluno é na sala de aula e o professor, sem outra opção, procurava acompanhar os alunos interessados em aprender enquanto os demais bagunçavam.

Como se vê, a realidade da escola paulista não é nenhuma maravilha. Mas, então, como é que Serra se vangloria de que a educação em SP apresenta bons resultados? Em primeiro lugar, os índices de aprovação são altissimos: o aluno só é reprovado quando seus próprios pais entram na justiça e convencem o juiz de que seu filho não está preparado para passar de ano, o que raramente acontece. Além disso, os critérios de avaliação da prova do Saresp já foram mudados algumas vezes, impedindo uma comparação real com anos anteriores. Na televisão, a comparação é muito simples: o desempenho dos alunos no Saresp melhorou. Na realidade, a melhora se deve a uma redução no nível de dificuldade da prova. Assim se maquia o problema, mas sob a capa de uma escola cada vez melhor se esconde a realidade: que cidadãos estamos formando? Que profissionais estamos formando? Qual vai ser o futuro do país enquanto a educação continuar sendo tratada com tanto descaso? Recentemente li uma notícia de que as empresas estão investindo cada vez mais em qualificação de seus profissionais. Será a causa disso a baixa qualidade do ensino público, que já começa a mostrar seus efeitos?

Além disso, há a necessidade  de se valorizar o trabalho dos profissionais da área de educação. Os professores têm sofrido com o arrocho salarial, que é compensado por uma política de substituir os salários por bônus proporcionais às faltas (se o professor fica doente não recebe bônus), sendo que os aposentados não têm direito a nenhuma gratificação. Um professor trabalha uma vida inteira para, após se aposentar, perder seus benefícios e ter ainda mais dificuldade para custear suas despesas.

Enfim, há muito mais a ser discutido sobre educação, então vou ficando por aqui, depois voltarei a tratar do tema.

Um comentário:

  1. Eu estava no ensino fundamental, estudando em uma escola estadual (Hilton Federici), quando o então governo de Mário Covas decretou a aprovação continuada. Na teoria, a medida visava o reforço daqueles alunos com dificuldades para que todos pudessem passar de ano sabendo. Na prática essa medida se tornou mesmo apenas uma aprovação automática, visto que alunos passavam sem nota, apenas tinham que fazer um trabalho bobo de duas páginas no ano seguinte e continuavam sem saber nada. Na oitava série decidiram ordenar os alunos por nota e separar os melhores dos piores em turmas diferentes. Isso foi melhor para mim, que estava na turma de maior nota. Já aqueles com mais dificuldades ficaram totalmente negligenciados.

    ResponderExcluir