quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A censura interna da mídia

Hoje recebi a triste notícia da demissão de Maria Rita Kehl do jornal O Estado de S. Paulo, depois de ter publicado em sua coluna, na véspera da eleição, um artigo que contraria a posição defendida pelo jornal. Na última terça-feira eu e um amigo conversamos sobre a demissão de Heródoto Barbeiro da TV Cultura, aparentemente por motivos políticos. Recomendo aos leitores, antes de mais nada, que leiam a entrevista que Maria Rita concedeu a Bob Tavares (http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4722228-EI6578,00-Maria+Rita+Kehl+Fui+demitida+por+um+delito+de+opiniao.html) e o vídeo que mostra Barbeiro colocando Serra em uma saia justa durante o programa Roda Viva (http://www.youtube.com/watch?v=TYGFSGVkK2o&feature=related).

Pois bem, antes de discutir as demissões, vou mostrar um pouco o comportamento da imprensa com relação ao governo, bem como o do governo em relação à imprensa.

Os órgãos de imprensa chamados de PIG (Partido da Imprensa Golpista, mas eu prefiro evitar o termo) devido a seus históricos duvidosos (http://vermelhosobreazul.blogspot.com/2010/10/como-midia-manipula-os-fatos.html) e a seu trabalho conjunto de distorcer os fatos para favorecer a imagem do PSDB, alegam que o governo deseja censurar a imprensa (então por que ainda não censurou?). Um bom exemplo é a alegação unanime por parte desses órgãos de imprensa que um decreto de Lula referente à punição de órgãos de imprensa que desrespeitarem os direitos humanos é o retorno da censura aos meios de comunicação e marco do início de uma ditadura do PT.

Mas que ditadura? A Folha de S. Paulo afirmou que nunca houve ditadura em nosso país, o que tivemos foi uma "ditabranda". Isso sim é um desrespeito àqueles que foram torturados e mortos pelo regime mais sangrento da história de nosso país, bem como a seus familiares. A "ditabranda" só existiu para José Serra, Fernando Henrique Cardoso e outros opositores do regime que fugiram do país antes do AI-5 e não presenciaram os momentos de maior terror, bem como jamais foram presos e torturados, tendo retornado ao Brasil somente após a anistia para entrar na política fazendo pose de heróis. Enquanto Dilma era torturada no Dops, Serra tomava cafezinho em Santiago do Chile.

O fato é que os órgãos de imprensa têm atacado sistematicamente o presidente Lula e o PT desde quando este assumiu a presidência da república, ao mesmo tempo em que demonstram simpatia pelos tucanos. Se dizem os paladinos da democracia e acusam Lula de querer censurar a imprensa (o que nunca aconteceu), mas nada falam sobre sua censura interna, a qual impede que notícias e principalmente opiniões sejam divulgadas de maneira favorável ao PT. Estes órgãos são tão democráticos que só admitem uma visão de mundo: a deles. Se algum colunista tiver opinião diferente vai logo para o olho da rua. Nossa mídia vive na época da inquisição, fazendo patrulha ideológica e punindo os hereges, pois é uma heresia ter opinião diferente.

Eis que Maria Rita Kehl publica uma opinião contrária à defendida pelo jornal no qual ela trabalhava (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101002/not_imp618576,0.php) e é demitida. O mesmo jornal que todos os dias publica a mesma reportagem "'Estado' sob censura há XXX dias", fazendo-se de vítima de uma decisão judicial que o proíbe de publicar notícias difamatórias sobre a família Sarney e tentando tirar proveito político desta decisão judicial, que nada tem a ver com o governo Lula. O mesmo jornal que apoiou o golpe de 64 e depois se mostrou como vítima dele.

O caso de Heródoto Barbeiro é outra situação: a TV Cultura é um órgão público, pertencente ao governo do estado de São Paulo e que ganhou notoriedade pela qualidade educativa e informativa de sua programação, especialmente através dos programas infantis, quase todos produzidos antes do PSDB assumir o governo paulista, e do Roda Viva, programa de entrevistas apresentado por Barbeiro. Os presidenciáveis deste ano foram convidados a participar do Roda Viva e todos foram sabatinados pelo apresentador e por jornalistas. No entanto, Serra foi questionado sobre as tarifas dos pedágios em SP, se irritou com a pergunta, desconversou e disse que o "boato" dos pedágios é invenção do PT. Pouco tempo depois, Barbeiro foi demitido e a emissora não deu explicação convincente sobre o fato. Marília Gabriela foi contratada para apresentar o programa, agora orientado à defesa do ponto de vista tucano, com direito a  dois jornalistas fixos na bancada: Augusto Nunes, com passagem pelas revistas Veja e Época e pelo jornal O Estado de S. Paulo, e Paulo Moreira Leite, da revista Época e candidato a ser o próximo demitido por sua mais recente publicação: http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite/2010/10/06/que-tal-abortar-a-hipocrisia/. Depois acusam Lula de usar o aparelho do Estado como máquina de propaganda.

Por fim, vale a pena a leitura de uma publicação de Luis Favre (http://blogdofavre.ig.com.br/2010/07/demissao-de-herodoto-barbeiro-do-roda-viva-provoca-questionamentos/), com a qual eu não concordo totalmente, mas apresenta excelentes momentos, como estes: "José Serra é conhecido por pedir a cabeça dos jornalistas que considera pouco maleáveis. Alguns já sofreram dessa repressão e intolerância do tucano com os que ousam contestar sua postura" (eis o homem que o "PIG" considera democrático) e "fica meu espanto com a soberba, intolerância, falta de espírito democrático e a má fé do candidato Serra, explícitas no vídeo".

Lembram-se do homem cordial (http://vermelhosobreazul.blogspot.com/2010/10/o-brasileiro-um-homem-cordial.html)? Ei-lo político. Ei-lo dono de jornal. Ei-lo jornalista. Age movido pelas paixões, mesmo que para isso tenha que passar por cima da ética. Ironicamente, cobra ética por parte daqueles a quem critica.

Um comentário:

  1. Oi Rafa!
    Sinceramente, na minha opinião, não temos em quem votar. Que Serra, o cinzento, não presta, não há a menor dúvida. Mas o que falar da Dilma, a encardida? Uma pessoa que subiu na esteira do Lula, nunca ocupou um cargo eletivo e que se não fosse o apoio do Lula, seria tão ou mais desconhecidsa que o inteligentíssimo Plínio Sampaio.
    Concordo com vc sobre a censura do PSDB aos verdadeiros jornalistas, que essas demissões são um absurdo, e na minha opinião isso tbm é uma ditadura, mas acho que sairmos da ditadura do PSDB para a ditadura do PT, não vai resolver a vida dos brasileiros.
    O que resolve é o brasileiro votar seriamente, não eleger os Tiriricas e Felicianos da vida, e cobrar de seus deputados, senadores, prefeitos, governadores, presidentes, etc., que cumpram suas promessas de campanha e sejam realmente honestos. Aliás, espero que a lei do "ficha lim pa" ajude ao menos a limparmos o congresso de muitos que só estão lá para as farras das gastanças do dinheiro público, mensalões, etc.

    É isso aí, amiguinho: antes de mais nada, o brasileiro tem que votar com seriedade e perder o estigma de ser um povo "esperto" querendo políticos honestos.

    Rita Padula

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