quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Estado forte ou Estado fraco?

Creio que a diferença fundamental entre as visões políticas de PT e PSDB seja a visão que eles têm da administração pública: enquanto os tucanos seguem a linha neoliberal, buscando enfraquecer o Estado e deixando tudo nas mãos do capital privado, o PT acredita em um estado forte que promova o desenvolvimento do país em todos os setores.

A questão é que, historicamente, o Brasil sempre dependeu de investimentos públicos para se desenvolver. As primeiras indústrias privadas brasileiras surgiam para atender a demandas do governo por certos produtos. Já as empresas estatais, foram criadas pelo próprio governo. Some-se a isso a proibição do governo português quanto ao desenvolvimento de atividade econômica significativa no Brasil: tudo tinha que ser importado. A sociedade escravocrata, na qual só os escravos trabalhavam, não nos deixou somente a mancha do racismo, mas também uma visão depreciativa do trabalho. Enquanto isso, nos EUA, a sociedade, seguidora da teologia calvinista, que prega o trabalho como uma forma do homem se redimir com Deus, criou um espírito empreendedor jamais visto antes. Conseqüência: a maioria das grandes empresas da atualidade têm sua matriz lá.

O brasileiro, como se vê, não tem um espírito empreendedor: monta uma padaria no bairro onde mora porque não há outra por perto, o lucro é garantido. Mesmo os pequenos empresários dificilmente pensam em expandir seus negócios, basta conseguir sustentar sua família e pronto. Um bom exemplo disso é constatar a realidade dos universitários brasileiros, todos sonhando em trabalhar no serviço público ou em multinacionais. Ao contrário de seus colegas estadunidenses que pensam em abrir o próprio negócio e ganhar dinheiro oferencendo algum serviço diferenciado ou desenvolvendo alguma tecnologia inovadora.

O modelo econômico que o PSDB quer implantar no Brasil é, portanto, inadequado à realidade nacional. Somos um país importador de tecnologia e as empresas estrangeiras se instalam aqui interessadas apenas em ganhar mercado e conseguir mão-de-obra e matéria-prima mais baratas. O empresário brasileiro não busca novas oportunidades de agregar valor a seu produto. Exemplo: prefere exportar café em grãos a investir em beneficiamento e exportá-lo em pó. O gringo ganha dinheiro transformando o grão em pó.

Para um país ser forte e competitivo é preciso, antes de mais nada, ter tecnologia própria, sendo que no Brasil quase todos os investimentos em pesquisa são financiados pelo governo. Qual país conseguiu se tornar competitivo no mercado internacional sem ter tecnologia própria? A Embraer e a Petrobrás, as principais transnacionais brasileiras, são empresas que possuem tecnologia de ponta desenvolvida por elas mesmas, senão teriam tido o mesmo destino da Gurgel.

As privatizações feitas pelo PSDB trouxeram qual benefício para o país? Os orelhões da Telesp funcionavam muito bem. Raramente a ligação caía. Agora uso os da Telefonica e a ligação cai sempre. Qualquer orelhão da Unicamp é a prova do que digo. A distribuição de energia elétrica também caiu muito em termos de qualidade. Quando a CPFL era pública o fornecimento de energia elétrica só era interrompido quando acontecia algo muito sério, como queda de poste. Agora falta energia elétrica com muito mais frequencia: meu bairro tem uns dois blecautes demorados por ano, sem contar que quase toda semana a luz dá uma piscadinha ou fico alguns minutos sem eletricidade em casa. Será que o orelhôes da Telefonica na Espanha são ruins como os brasileiros? Será que em outros países onde o fornecimento de energia elétrica é privado há tanta queda de energia? Esse tipo de modelo pode se adequar bem à realidade de outros países, mas não à brasileira.

Além disso, outra questão a ser considerada é: por que enfraquecer o Estado? Como vimos, impedir o Estado Brasileiro de promover o desenvolvimento econômico do país equivale a colocar todas as nossas riquezas e serviços fundamentais inclusive para a segurança nacional nas mãos de estrangeiros interessados apenas em se apoder de tudo e ficar com o dinheiro para eles. Quando não tiver mais nada eles vão embora e deixam o povo brasileiro sem condições de se desenvolver. É a mesma lógica que nos colonizou: o português chegava aqui interessado em explorar as riquezas do Brasil para ter uma vida luxuosa na Europa. Vamos aceitar uma nova colonização?

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