sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O eleitor cordial.

Diante dos acontecimentos dos últimos dias, me vi obrigado, novamente, a discutir a questão do homem cordial buarqueano. Primeiramente, peço a quem não conhece a definição de Sérgio Buarque de Holanda para o homem cordial, que leia este texto antes de prosseguir: http://vermelhosobreazul.blogspot.com/2010/10/o-brasileiro-um-homem-cordial.html.

Pois bem, às vésperas do primeiro turno, e-mails caluniosos sobre Dilma e uma suposta orientação da CNBB, mais tarde desmentida por ela própria, para que os católicos não votassem em Dilma abalaram as convicções de uma parcela expressiva do eleitorado. O resultado foi o que se viu: Dilma, que segundo as pesquisas iria vencer já no primeiro turno, foi bem menos votada. Foi uma jogada muito inteligente da oposição abalar emocionalmente as pessoas a poucos dias da eleição, sem dar tempo para que o adversário se defenda nem para que a polícia investigue denúncias veiculadas pela mídia no calor da hora.

Eis a exploração do lado ruim da cordialidade brasileira, algo que não é novo no Brasil: foi exatamente dessa maneira que a direita conseguiu impor sua vontade ao povo em sucessivos golpes de estado, como o famoso plano Cohen, que amedrontou a população e a induziu a aceitar uma ditadura de Vargas achando que assim estaria livre de uma ameaça comunista que, hoje se sabe, jamais existiu. A mesma idéia de ameaça comunista serviu para fazer o brasileiro aceitar calado o golpe de 64, que instituiu a mais terrível ditadura da nossa história. E o que é que a mídia tem feito desde a escolha de Dilma para ser candidata do PT nesta eleição? A associou ao comunismo, mas não adiantou, pois o povo sabe que o muro de Berlim já caiu há muito tempo. Então a acusaram de ser uma terrorista sanguinária, na tentativa de impor medo à população e induzi-la a votar em Serra. Algumas pessoas se convenceram disso, mas a maioria percebeu que a conduta exemplar da ministra ao longo dos últimos oito anos não é compatível com o terrorismo. Então veio o apelo religioso, divulgaram que Dilma é atéia, alguns a acusam até mesmo de satanismo, enquanto Serra é cristão (mesmo depois de ter assinado em 98, como ministro da saúde, documento legalizando o aborto). Dilma é separada, enquanto Serra tem uma família de propaganda de margarina (segundo a mídia). Dilma é a favor do aborto, Serra é contra (quem foi que assinou aquela lei mesmo...?). E assim os ataques prosseguem, apelando a assuntos que nada têm a ver com a função de um presidente da república. Por que motivo fazem isso? Porque sabem que o brasileiro é cordial e esses temas mexem com emoções e valores morais das pessoas.

Assim, vendo que o povo já não se deixa manipular tão facilmente e que certas estratégias do passado já não funcionam, a direita tratou de buscar estratégias extremas para voltar ao poder: estratégias de marketing e de inteligência militar das mais sujas, conforme se pode ver neste artigo de Rodrigo Vianna: http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/as-cinco-ondas-da-campanha-contra-dilma-sao-tecnicas-de-contra-informacao-militar.html.

O referido artigo cita um outro, muito interessante e que merece ser lido com calma e atenção: um repórter com experiência em jornalismo investigativo conseguiu, usando o google, descobrir de onde partiu um e-mail calunioso contra Dilma: http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/boateiro-tem-nome-e-sobrenome-email-contra-dilma-partiu-de-gente-ligada-a-extrema-direita.html. Trata-se de Nei Mohn, conhecido ativista de extrema-direita, que foi presidente da Juventude Anti-Comunista (mais conhecida como Juventude Nazista) em 1968, suspeito de atos terroristas e de falsificação de um jornal da Igreja Católica, bem como de ter torturado três crianças, filhas de sua ex-mulher. Todas estas informações foram publicadas em revistas de circulação nacional na década de 80, e podem ser consultadas em um acervo digitalizado da Universidade Federal de São Carlos:

Sei que, aparentemente, parece ser uma teoria conspiratória maluca, como tantas que há por aí, mas, tendo um conhecimento razoável da história do Brasil, especialmente das relações de poder, é fácil perceber que, infelizmente, isso pode sim ser real. Já vimos, às vésperas do primeiro turno, uma mídia furiosa atacar Dilma com todas as suas forças, soltando um monte de denúncias que pareciam ter sido preparadas especialmente para a ocasião. Não me surpreenderei nenhum pouco se estourarem escândalos, acontecerem supostos atentados para incriminar o PT ou qualquer coisa do tipo. Isso já aconteceu no Brasil em outras épocas e está acontecendo novamente.

O que foi todo aquele teatro sobre um suposto rolo de fitas adesivas lançado contra Serra? A Dilma, atacada por um militante tucano com uma bexiga cheia de água, não quis fazer uso político disso, enquanto a Globo mostra uma imagem de péssima qualidade onde se vê um borrão que um perito analisou e concluiu que era somente um artifact de compressão de vídeo (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/professor-confirma-armacao-da-globo. Ainda não se convenceu? Veja isto: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-cinco-erros-de-molina). Além disso, volto a insistir, por que Serra não fez exame de corpo de delito, nem fez BO? E onde foi parar o artefato, a prova do crime? E o machucado na careca de Serra, cadê? Nunca vi ninguém se machucar ao ser atingido por um objeto desses nem precisar fazer tomografia depois disso. O que sei é que, sendo o Dr. Jacob Kligerman um grande amigo de Serra, é bem provável que tenha feito esse favorzão em troca do ministério da saúde caso o Serra for eleito.

O fato é que, em outros países, as pessoas não costumam mudar sua intenção de voto só porque um candidato sofreu uma agressão, afinal, o fato de um homem ter sido atingido na cabeça por uma bola de papel não nos informa nada a respeito de sua aptidão para ser presidente da república. Ou será que alguém contrataria um funcionário usando como critério quantas agressões ele recebeu ao invés de sua competência para o trabalho?

Acredito que este episódio pode ter sido combinado, talvez a bolinha tenha sido lançada pelos próprios militantes tucanos só para manchar a imagem do PT, que por sinal, nada tem a ver com atitudes individuais de seus membros ou simpatizantes. Hoje sabemos que durante a ditadura militar o governo realizava atentados terroristas para culpar grupos de esquerda, usando a Rede Globo como sua principal máquina de propaganda. A direita brasileira sabe muito bem como amedrontar a população e culpar a esquerda, afinal, é diplomada na Escola das Américas.

Por isso ando preocupado, pois sei que alguma bomba vai estourar (pode até ser que estoure literalmente) às vésperas da eleição.  Talvez seja só um dossiê ou uma denúncia de corrupção no governo, como é de praxe, mas temo que haja uma apelação, talvez a maior já vista no Brasil até agora, para causar pânico. A direita já mostrou que não está para brincadeira e com certeza já tem algo preparado para amedrontar os eleitores e prejudicar o PT. Só espero que o PT tenha percebido isso e se preparado para remediar a situação.

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