sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A preservação dos valores democráticos.

Muitos ativistas acusam candidatos à presidência de serem uma ameaça à democracia. Alguns acusam Serra, outros acusam Dilma, e há também que acuse ambos.

Quem está com a razão? Vamos aos fatos.

O Brasil, durante a maior parte de sua história, foi governado por um ditador, a começar pelo rei de Portugal. Com a independência, nos tornamos um império e finalmente tivemos um poder moderador: o congresso, fechado quando se opunha à vontade do imperador, e reaberto quando a popularidade do monarca atingia níveis muito baixos.

Depois da proclamação da república, tivemos a república da espada, época em que os presidentes eram militares. Depois veio o café com leite: São Paulo e Minas usaram o poder em benefício próprio (não do povo, mas dos latinfundiários). Veio a revolução de 30, tivemos a ditadura de Vargas, períodos curtos nos quais a democracia floresceu, a ditadura militar de 64, que durou 21 anos e, por fim, a redemocratização, com a constituição de 88. Desde então, embora muito se critique a democracia no Brasil, ela está evoluindo e se afirmando.

Um bom exemplo disso é a chamada compra de votos, que vai se tornando cada vez menos comum. José Murilo de Carvalho observa (In: Cidadania no Brasil: o longo caminho) que nos primórdios da república, a compra de votos era o meio pelo qual os políticos se elegiam, mas com o passar do tempo o eleitor passou a cobrar cada vez mais caro pelo seu voto, ia tomando consciência de que aquilo tinha valor, e daí à consciência cidadã era um passo, e a compra se tornava um fardo pesado para os políticos, que optaram por instituir o voto censitário alegando que um povo ignorante não estava apto a votar. Assim se matou a primeira tentativa de democratizar o país e o voto foi restrito às elites.

A nossa constituição de hoje assegura o direito de voto aos pobres e aos analfabetos, direito condenado por muitos partidários de Serra e órgãos de mídia que o apóiam. Nossa democracia é jovem e os valores democráticos estão se tornando cada vez mais sólidos. Não podemos nos deixar levar por discursos preconceituosos que pregam o direito de voto apenas aos que tem diploma de nível superior ou aos que tem dinheiro para assinar jornal. Isso é discriminar. O povo, historicamente excluído do processo democrático, hoje tem voz. Ainda não discursa, mas está aprendendo. Vimos, na última eleição, vários caciques da nossa política não serem reeleitos. Não eram eles que os analfabetos elegiam em troca de um mísero par de sapatos? Pois bem, agora está surgindo uma consciência de que o voto vale bem mais do que isso. Cabe a nós, cidadãos, mais do que ir às urnas, usar nossos direitos políticos no dia-a-dia, cobrando ações dos governantes, fiscalizando-os e participando ativamente dos debates em torno do desenvolvimento da nação.

A mídia serrista é formada pelo jornal O Estado de S. Paulo, principal apoiador do golpe de 64, pela Globo, criada com o patrocínio dos militares para apoiar o regime, que manipulou as eleições de 89 e elegeu Collor, e por tantos outros órgãos de mídia que chegaram ao cúmulo de publicar fotomontagens e notícias baseadas em boatos de internet para associar Dilma ao terrorismo. Eis exemplos do que há de mais condenável nessas instituições. Os blogs foram a principal forma da esquerda mostrar sua visão dos fatos e combater a doutrinação ideológica dos principais meios de comunicação do país. Talvez isto explique porque Serra defende a censura aos "blogs sujos" que contrariam seu ponto de vista.

Já pensaram na diferença entre a visão de mundo dos eleitores de Serra e de Dilma? O eleitorado tucano é predominantemente das classes A e B. Não se trata de serem pessoas mais cultas ou esclarecidas, visto que os grandes intelectuais do país apóiam Dilma. São, isso sim, classes privilegiadas que vivem uma realidade distante daquela vivida pela maioria da população. Gente cuja vida se limita aos limites dos condomínios e shoppings. Gente que tem nojo de pobre. Gente que se envergonha do Brasil porque aqui há muita pobreza, mas prefere continuar se envergonhando a permitir o avanço de programas sociais que promovam melhores condições de vida e aumento da renda da periferia.

Os eleitores de Dilma, ao contrário, se distribuem por todas as classes sociais, indo desde os maiores intelectuais brasileiros, que compreendem a necessidade de nosso pais combater a desigualdade social, há muito tempo além do limite do tolerável, até os pobres, outrora esquecidos pelo Estado, que agora vêem sua vida melhorar. Os programas de erradicação da pobreza no Brasil são elogiados e copiados mundo afora. A nova classe média, formada por pobres que ascenderam socialmente durante o governo Lula, está tirando cada vez mais gente da miséria e isso não é assistencialismo, é desenvolvimento social.

Com relação às eleições, devemos pautar nossa escolha pelo condidato que apresentar as melhores propostas e souber defendê-las nos debates, bem como demonstrar disposição para discuti-las e, eventualmente, modificá-las de acordo com o interesse coletivo. No entanto, o que vemos são ataques incessantes e cada vez mais apelativos à honra da candidata Dilma, que, tendo participado da luta pela democracia nos anos de chumbo, sido presa e torturada no DOPS, é tachada de terrorista (ecos de uma nostalgia da ditadura na campanha de Serra), enquanto o candidato tucano se mostra como um herói que lutou contra a ditadura (por correspondência, já que se autoexilou no exterior e não cumpriu nem mesmo seu mandato como presidente da UNE). Serra ainda teve a capacidade de negar o papel de sua adversária na luta contra o regime militar.

Dilma também tem feito ataques ao tucano, especialmente quando os ataques feitos a ela provocaram perda de votos da candidata petista, que tem todo o direito de se defender, seja desconstruindo as acusações feitas a ela, seja denunciando os podres do candidato adversário. Entretanto, ela também apresentou suas propostas, coisas que Serra não fez. É necessário ter o bom senso de escolher em quem votar com base nas propostas apresentadas, tendo como segundo critério a moral dos candidatos, revelada por suas atitudes com relação aos adversários. A democracia deve se pautar pelo respeito ao outro. Ataques gratuitos não contribuirão em nada para tornar mais esclarecedor o debate em torno da sucessão de Lula.

Lula deu exemplo de democracia durante seu governo, não interferindo uma única vez na atividade da imprensa, por mais que essa lhe tenha feito críticas sensacionalistas, tendenciosas e injustas. Durante a crise econômica, na qual o Brasil foi o último país a entrar e o primeiro a sair, a imprensa e os políticos tucanos acusaram Lula de estar agindo de maneira imatura e irresponsável e fizeram piada com a declaração do presidente de que no Brasil haveria uma "marolinha". É fato que nosso país cresceu durante a pior crise mundial das últimas décadas, que provocou caos em diversos países muito fortes economicamente e dotados de melhores meios de reduzir seus impactos. Torcer contra o Brasil em nome de um fanatismo ideológico é a prova de que essa gente não tem um pingo de amor ao país e só pensa em si mesma. Política não é futebol para escolhermos um time para torcer e comemorar quando o adversário perde um gol. Quando o governo comete um erro, todos nós pagamos por ele. O Estado é de todos e, fora das urnas, é nosso dever trabalhar por um país melhor independente de quem esteja no poder.

Lula comandou os trabalhadores brasileiros na luta pela redemocratização do país e, desde então, suas ações se pautaram pela defesa dos excluídos e pelo fortalecimento da democracia. Assim como Dilma, foi preso e torturado no período mais triste de nossa história. Mesmo sofrendo fortes ataques da revista Veja, o governo federal foi o principal assinante da revista, distribuída por bibliotecas e repartições públicas em todo o país. Quer atitude mais democrática do que essa? Você pode até não gostar de Lula, de Dilma e do PT, mas, se pode manifestar abertamente suas opiniões, agradeça a eles.

Voltarei a publicar neste blog somente depois da eleição. Até lá!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Meio-ambiente

Uma questão importantíssima a considerar na hora de escolher em quem votar nas próximas eleições são as propostas para preservação do meio-ambiente. Eis as minhas considerações.

Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que o partido do presidente sempre toma para si os ministérios que considera estratégicos para o desenvolvimento do país. Assim, ministérios de saúde, educação, agricultura, etc pertencem, tradicionalmente, ao partido do executivo. Já os ministérios cuja importância estrategica não é tão grande para o projeto do governante, acabam sendo entregues aos partidos aliados em troca de apoio no congresso.

O Ministério do Meio-Ambiente é um dos que costuma ser usado para barganhas políticas (no governo FHC, por exemplo, foi dado ao filho de Sarney em troca do apoio do PMDB). A única vez que isso não aconteceu foi durante o governo Lula, quando Marina Silva, à época, do PT, assumiu a pasta. Isto prova que o PT enxerga o setor ambiental como estratégico para o desenvolvimento do país.

Assim é que, durante o governo petista, graças ao trabalho de Marina Silva, houve uma grande redução nos desmatamentos da amazônia brasileira. Seu trabalho foi reconhecido e premiado internacionalmente. Seus atritos com Dilma foram algo absolutamente normal em política: os interesses das pastas conflitavam (Marina precisava lutar pela preservação, enquanto Dilma precisava cuidar de obras necessárias e urgentes para o Brasil avançar), algo absolutamente normal, sendo que normalmente, em situações como essa, o ministro do meio-ambiente precisa se calar para não perder a pasta, já que os interesses políticos em jogo se sobressaem aos interesses ambientais, uma vez que o ministério do Meio Ambiente, como já foi dito, costuma servir para barganhas políticas.

Mas Dilma, pintada como vilã da causa ambiental por cobrar urgência na execução de obras de impacto ambiental considerável, não teve outra escolha. Como ministra, era sua função cuidar de sua pasta e o Brasil estava prestes a entrar em um colapso energético e logístico graças aos baixos investimentos em infra-estrutura no governo FHC. Como presidente será responsável por coordenar a integração entre todas as pastas dos ministérios e certamente fará isso com competência.

Além disso, Dilma contribuiu muito com o meio-ambiente. Sua principal contribuição se deu através da Petrobrás, de cujo conselho diretor Dilma fazia parte. No governo FHC, com o objetivo de obter apoio popular para a privatização da estatal, a empresa foi sucateada a ponto de derramamentos de óleo serem frequentes. A empresa era chamada de "emporcalhobrás" por um grupo de humoristas. Quem não se lembra do afundamento da Plataforma P-36 na Bacia de Campos? Aquilo foi o ápice de uma série de ações cujo objetivo era convencer o brasileiro de que a empresa caminhava para a falência, devendo, portanto, ser privatizada. Ao mesmo tempo, se tratava de reduzir o valor de mercado da empresa para vendê-la a preço baixo, a exemplo do que foi feito com outras estatais. Quem pagou mais caro por essas ações absurdas do governo foi o meio-ambiente: grandes quantidades de óleo emporcalharam praias, rios e mares. Lula e Dilma, ao contrário, investiram na empresa, que cresceu muito e hoje é a empresa brasileira que mais investe em programas e pesquisas científicas ligados à preservação do meio-ambiente, além de patrocinar atividades culturais e esportivas por todo o país.

Enfim, há muito a ser dito sobre o trabalho do governo Lula em prol do meio-ambiente, mas a preocupação ambiental da Petrobrás e o tratamento dado ao ministério do Meio-Ambiente são, a meu ver, os dois pontos principais. Marina Silva permanece neutra neste segundo turno, por decisão própria, mas declarou que, dentre os dois candidatos, as propostas de Dilma são mais próximas às dela. Além disso, a filha de Chico Mendes, a juventude de PV e diversos diretórios do PV em vários estados brasileiros apóiam a candidata petista. Quer reconhecimento maior do que este? Por outro lado, pesquise: qual candidato os latifundiários apóiam?

Encerro este artigo por aqui porque desejo informar o meu leitor sobre um boato que circula por aí, alegando que Marina declarou apoio a Serra. Trata-se de uma mentira deslavada, conforme se pode perceber lendo esta nota: http://www.espalheaverdade.com.br/2010/10/27/e-mail-com-falso-texto-de-marina-circula-pela-rede/

Uma nova versão do boato surgiu recentemente em um blog pró-Serra. O blog usa um leiaute muito parecido com das páginas oficiais do candidato e cita a Agência Estado como fonte, sem ter link para a fonte. Fiz uma busca na paǵina da referida agência de notícias e outra no google, em ambos os casos, não encontrei tal informação. Fique atento e não acredite em tudo o que dizem por aí. É o desespero dos tucanos que vêem a Dilma crescer nas pesquisas às vésperas das eleições e querem derrubá-la a qualquer custo. Pesquise sempre!

Acabo de ler a seguinte notícia no blog de Marina Silva: http://www.minhamarina.org.br/blog/2010/10/nao-usem-meu-nome-para-o-vale-tudo-eleitoral-repreende-marina/. Eis mais um desmentido dos boatos, dessa vez por ela mesma.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Querem repetir 89.

É muito grave a denúncia de Marilena Chauí sobre uma possível armação de militantes tucanos que pretenderia, trajando camisetas e portando bandeiras do PT, atacar pessoas "para tirar sangue" durante o comício de Serra em São Paulo no próximo dia 29, antivéspera da eleição e último dia de campanha, quando o PT não terá tempo nem meios para responder à acusação de estar por trás da agressão, que o PIG certamente mostraria e condenaria. http://www.youtube.com/watch?v=F52srp0SImE.

A própria filósofa alerta para a semelhança entre este fato e o sequestro de Abílio Diniz às vésperas das eleições de 89, quando a polícia obrigou os sequestradores a vestirem camisetas do PT para a imprensa fotografá-los.

Contudo, o que mais marcou as eleições de 89 foi, certamente, o compacto do debate da TV Globo, transmitido ao vivo de madrugada, quando a população dormia, e depois exibido no horário nobre como um compacto com o melhor de Collor e o pior de Lula. Este fato, aliado à máquina de propaganda da Globo e à farsa montada para ligar o PT ao sequestro do empresário custou a vitória a Lula naquelas eleições. A Globo de hoje não tem o mesmo poder de antes, mas o episódio da suposta fita que teria atingido Serra é uma prova de que ela continua mascarando a verdade com o objetivo de influenciar o eleitorado brasileiro. Além disso, se a Globo sozinha não tem a cacidade de repetir 89, o PIG tem: os maiores e mais poderosos órgãos de mídia do país estão unidos contra o PT e, juntos, são tão poderosos quanto a Globo de 21 anos atrás.

A direita tem usado as mesmas fórmulas que sempre usou em situações como essa: além da imprensa, algo que sempre pertenceu à direita, espalham o medo e a mentira. Às vésperas do primeiro turno, por exemplo, Dilma estava com a eleição ganha no primeiro turno, mas a direita, em manobra desesperada, lançou um pacote de ações que incluiu boatos na internet e distribuição de panfletos falsos atribuídos à CNBB orientando os católicos a não votarem em Dilma. Não houve tempo de desmentir, mas a CNBB emitiu nota, após o primeiro turno alegando que "não impôs veto a candidatura alguma nem produziu nenhum panfleto ou carta contra a candidata Dilma Rousseff" (http://www.espalheaverdade.com.br/2010/10/17/pega-na-mentira-cnbb-nao-assina-panfletos-nem-cartas-contra-dilma/). Assim, tais panfletos são obra de gente que quer manipular o povo, tendo a mentira e o "amedrontamento" como armas).

O que esperar para esta semana, a última antes do segundo turno, além de algo parecido? Não se tem feito nenhuma manobra com o intuito de atingir Dilma desde a gafe do rolo de fita. Está uma semana muito tranquila, nem parece que falta menos de uma semana para irmos às urnas. O que devemos esperar que aconteça nos próximos dias? Certamente a mídia e o PSDB têm algum plano pronto que vai estourar imediatamente antes da eleição, sem dar tempo nem condições para que o PT se defenda. Se não for a pancadaria durante o contato de Serra com seus eleitores paulistas, será alguma outra coisa, que pode ir desde um escândalo político até a explosão de uma bomba. O que se pretende é amedrontar a população às vésperas da eleição, para que ela, de alguma forma, seja seduzida pelo discurso tucano.

Vivemos em um país democrático e este comportamento da mídia e da coligação de Serra é absolutamente anti-democrático, assim como são antidemocráticas as pancadarias promovidas pela tropa de choque paulista, a mando de Serra, contra grevistas e manifestantes. Assim como são antidemocráticas as ações da mídia ao mostrar opiniões como fatos e dando voz somente a um dos lados. Assim como é antidemocrática a tentativa de subir ao poder valendo-se da boataria, de agressões fabricadas, de panfletos caluniosos sobre Dilma. O povo deve eleger seus governantes de maneira consciente e com base no projeto que cada um tem para o Brasil (aliás, o que Serra pretende fazer como presidente? Até agora ele só prometeu um aumento no salário mínimo e na bolsa-família, conflitante com a outra promessa, de que enxugaria as contas públicas, sem explicar como).

Um presidente eleito através da manipulação da opinião pública não é legítimo e pode nos levar a outro episódio tão triste quanto o do impeachment de Collor, primeiro presidente eleito pelo povo brasileiro após a constituição de 1988.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Conhecer a opinião dos outros

Hoje não escreverei meu texto diário. Decidi colocar aqui, ao invés disso, um link para um texto, extenso, mas muito bem organizado e dividido em tópicos, com links que comprovam o que está sendo dito, o que é louvável em meio a tanto disque-disque que infesta a internet, a televisão e até os jornais. Eis o texto que recomendo: http://www.idelberavelar.com/archives/2010/10/para_voce_eleitor_indeciso_por_ricardo_lins_horta.php

Além disso, descobri, no youtube, uma série de vídeos de Marilena Chauí sobre o segundo turno das eleições. Com a palavra, uma das mais eruditas e respeitadas intelectuais brasileiras (após assistir a este vídeo, veja as 2a, 3a e 4a parte da entrevista clicando nos links à direita do vídeo): http://www.youtube.com/watch?v=0j6jgDs7gMQ&NR=1


Cito aqui o que o escritor Fernando Morais disse no ato de intelectuais em apoio a Dilma, na semana passada: "Sou Dilma porque conheço José Serra há 30 anos e sei o mal que esse sujeito pode fazer ao Brasil".

Para descontrair, segue o segundo vídeo da série #votonoserrapq, (http://www.youtube.com/watch?v=LHkwrNjHRp8&feature=related) com participação de Christovam Buarque comentando a bolinha de papel. Quem ainda não viu o primeiro vídeo, eis o link: http://www.youtube.com/watch?v=obuafIUdG30&feature=related.

Até breve!

domingo, 24 de outubro de 2010

A farsa do superministro da saúde

Há quem diga que Serra foi um excelente ministro da saúde, mito que eu pretendo colocar em xeque com estes breves apontamentos.

Primeiramente, o governo FHC teve dois ministros da saúde. O primeiro deles foi o Dr. Adib Jatene, médico competente e profundo conhecedor dos problemas da saúde pública no Brasil. Excelente ministro do qual poucos se recordam. O governo Itamar Franco já havia controlado a dengue no país, mas ele, percebendo que a continuidade das políticas preventivas era necessária para impedir uma nova epidemia (como aquela gravíssima ocorrida no início dos anos 90), formou um grupo de trabalho para discutir formas mais eficazes de controlar o Aedes aegypt.

Também em sua gestão, a exemplo do que já vinha sendo feito em gestões anteriores, o Dr. Adib Jatene manteve a questão da AIDS como um tema central, incentivando o uso da camisinha, bem como sua distribuição gratuita nos postos de saúde, e estudou formas de dar tratamento aos aidéticos pelo SUS, visto que os medicamentos eram muito caros.

Contudo, o orçamento era apertado e a saúde pública estava um caos. Foi então que ele batalhou arduamente com o congresso nacional para aprovar a CPMF, imposto provisório que iria triplicar o orçamento do ministério, permitindo grandes avanços na recuperação do sistema público de saúde. Obteve sucesso, mas aí algo estranho aconteceu: o presidente FHC o substituiu por José Serra, para que este colhesse os frutos do trabalho do Dr. Jatene, obrigado a deixar o ministério com baixa aprovação popular por ser associado ao novo imposto. O novo ministro, cuja imagem até então estava preservada, pegou a parte fácil do trabalho: orçamento triplicado, vários projetos importantes da área de saúde tramitando no congresso, dentre eles a lei dos genéricos, que Serra só precisou assinar e sair por aí dizendo que era seu. Enquanto seu antecessor ficou conhecido como "o ministro da CPMF", Serra recebeu o título de "ministro dos genéricos".

Mesmo com um orçamento triplicado, Serra não se conteve: queria cortar gastos em alguma coisa e cancelou adivinha o quê? O plano do dr. Jatene para controlar o Aedes Aegypt. Resultado: na virada do milênio a dengue voltou com força total. A febre amarela demorou um pouco mais e acabou chegando no início do governo Lula, mas aí, dizem os tucanos, já não é culpa de Serra, mas, como ele próprio costuma dizer, "coisa do PT".

Dar tratamento aos aidéticos com tanta verba assim foi fácil. Os genéricos já estavam aprovados no congresso. Jatene já tinha deixado tudo pronto. Então Serra resolveu fazer algo de seu pela saúde pública, afinal, tinha dinheiro para gastar e a saúde pública necessitava de ambulâncias. Então passou a distribuir ambulâncias Brasil afora até o fim de seu mandato, atividade que continuou durante algum tempo no governo Lula. Mas, quando o esquema de compra dessas ambulâncias foi revelado, Serra, modesto, não fez questão de ter sua autoria reconhecida, afinal, tendo se apoderado do trabalho do ministro anterior, seria de bom tom dar os créditos de seu trabalho a seu sucessor. Nada mais justo.

Outro mérito de Serra foi ter se tornado o primeiro ministro da saúde a assinar uma lei permitindo o aborto em hospitais públicos, sem se importar com a reação negativa por parte de igrejas cristãs, como prova este discurso inflamado do finado padre Léo na Canção Nova: http://www.youtube.com/watch?v=EdNJwnN_vV0&feature=fvst. Interessante perceber a coerência dessas igrejas que, pregando o perdão, souberam perdoar Serra e hoje apóiam sua candidatura.

Por fim, Serra se gaba de ter feito, como governador de SP, 300 hospitais. E reclama que o governo Lula não construiu hospital nenhum. Quantos hospitais o governo FHC construiu, mesmo com toda aquela grana da CPMF? Nenhum também. A razão é que a responsabilidade pela construção de hospitais é dos governos estaduais. A responsabilidade do governo federal na saúde se limita à elaboração de normas e planos desenvolvimento para o setor, além do repasse de verbas para os governos estaduais e municipais construíres hospitais, equipa-los, comprarem materiais, remédios, etc. Comparar uma gestão do governo estadual com outra do governo federal é tratá-los como dois governos paralelos e concorrentes em um mesmo país, e não como duas esferas de um mesmo governo, que deveria dividir responsabilidades e trabalhar de maneira integrada.

sábado, 23 de outubro de 2010

C&T e ensino superior.

Alguém já viu uma superpotência não ter tecnologia de ponta? Em algum momento da história da humanidade, um país tecnologicamente menos evoluído conseguiu ter grande influência diplomática?

Pois bem, durante o governo FHC, a política para pesquisa científica se baseava na idéia de que importar tecnologia seria mais barato do que desenvolvê-la. Não está errado. De fato, considerando o atraso tecnológico do Brasil em algumas áreas, a importação de tecnologias estrangeiras se torna mais viável economicamente. Mas há outras questões a ser discutidas além do custo, as quais foram, no entanto, desprezadas por um governo que só se preocupou com balanço de caixa, sem atentar a questões estratégicas.

Qualquer país promissor investe pesado em educação, ciência e tecnologia. Sem isso nenhum país avança. Já me referi, em outra ocasião, ao fato de que as empresas brasileiras mais competitivas no mercado internacional são justamente aquelas que possuem as mais modernas tecnologias em seus respectivos setores, como é o caso da Embraer e da Petrobrás. Enquanto isso, muitas empresas brasileiras penam para competir com concorrentes estrangeiras que possuem tecnologia mais avançada e estão, portanto, mais preparadas para oferecer produtos diferenciados ou preços melhores a seus clientes.

Aliás, a famosa "fuga de cérebros" existente no Brasil foi justamente causada por essa lógica de fazer pesquisa da forma mais barata: os militares, quando decidiram investir pesado em pesquisa científica durante o período do milagre econômico brasileiro, quiseram fazer isso da forma mais barata possível (e dinheiro não faltava): criando cursos de pós-graduação, para que os pós-graduandos das universidades fizessem pesquisa a preços módicos (uma bolsa que é uma merreca comparada ao salário de um cientista) e sem direitos trabalhistas. A conseqüência disso é que o país passou a formar uma grande quantidade de doutores extremamente qualificados sem ter uma indústria de base tecnológica para absorvê-los, ao contrário do que acontece nos países hegemônicos e em alguns emergentes.

Conceber o setor de C&T como um gasto supérfluo e não como investimento necessário para o desenvolvimento do país é errôneo. Não podemos ficar a mercê de tecnologia externa, cuja importação pode nos ser negada a qualquer momento devido a algum conflito diplomático ou mesmo qualquer desculpinha de algum governo ou megaempresário estrangeiro.

Creio que o PT compreendeu isto, e durante o governo Lula o investimento em ciência e tecnologia aumentou consideravelmente, com mais verbas para o Ministério da Ciência e Tecnologia. As bolsas de iniciação científica e de pós-graduação não só aumentaram em quantidade, mas também seus valores, congelados desde 1995 (quando FHC reduziu o valor das bolsas ao invés de aumentá-lo), foram aumentados. Continuam baixos, mas não tão baixos como antes.

Foram criadas 14 novas universidades federais em locais estratégicos. O Vale do Jequitinhonha, por exemplo, uma das regiões mais pobres do país, agora tem universidade federal. E não seria esse o melhor caminho de desenvolver aquela região? Moro em um pólo tecnológico e sei bem como a existência de mão-de-obra bem qualificada e de pesquisa científica atraem empresas, gerando empregos e renda para a região. Além disso, é fácil identificar, dentro das secretarias municipais de cidades próximas a universidades públicas, diversos docentes dessas instituições ocupando cargos-chave no planejamento de políticas públicas. Quem ganha é o povo.

E por falar nas federais, conheço diversos pesquisadores que dependiam de bolsas para viver e estavam inseguros quanto a seu futuro profissional, visto que as universidades não estavam contratando, embora tivessem déficit no número de docentes. Vi pesquisadores talentosos abandonarem a carreira para ocupar um cargo baixo na burocracia ou em alguma empresa, porque precisavam de emprego e não encontravam possibilidades. De repente vi, no meu instituto, o governo federal passar a peneira e levar embora diversos peixes graúdos: excelentes pesquisadores que hoje são docentes de universidades federais.

Enquanto isso, o primeiro ato de Serra ao assumir o governo paulista foi criar uma nova secretaria de maneira ilegal: não podendo criar uma nova secretaria sem autorização dos deputados estaduais, ele renomeou a Secretaria de Turismo para Secretaria de Ensino Superior, e esta deixou de tratar de turismo para tratar de outra área, para a qual seus funcionários não tinham a devida qualificação, já que eram todos especialistas em turismo. Enfim, uma secretaria para inglês ver, de turismo, em termos legais, mas de ensino superior na prática. Esse ato é preocupante porque desvincula as atividades de ensino, pesquisa e extensão, bem como cria um abismo ainda maior entre as políticas educacionais para os níveis fundamental, médio e superior.

Serra se vangloria de ter ampliado o ensino técnico em SP. Ampliou sim, mas naquela comcepção típica do PSDB: um profissional é formado a partir de giz e lousa. As escolas técnicas paulistas estão em situação cada vez mais precária financeiramente, tiveram aumento de alunos, mas não de verbas, há, em muitas delas, falta de professores, além de muitas não terem laboratórios, ou não terem materiais, ou mesmo estarem impossibilitadas de substituir ou modernizar equipamentos quebrados ou obsoletos. Outro detalhe importante é a extinção dos CEFAMs (Centros Estaduais de Formação e Aprimoramento do Magistério), transformados em escolas técnicas. Onde os professores da rede pública farão cursos de aprimoramento agora? Por fim, o mais grave: salas de aula de escolas estaduais comuns estão sendo usadas para a educação técnica, sem os investimentos necessários para se adequar o espaço à realidade de um outro tipo de formação (aliás, o que são as salas-ambiente das escolas estaduais paulistas? Um bando de cartazes colados na parede? São salas-ambiente para inglês ver).

Reconheço que, a nível federal, em certos aspectos o avanço não foi muito grande: o valor de uma bolsa de mestrado, por exemplo, é inadequado ao custo de vida de diversas cidades brasileiras. Além disso, as universidades federais continuam tendo déficit de docentes e pouca verba. Porém, se certos problemas não foram solucionados, pelo menos seus efeitos negativos foram minimizados e se caminha no rumo certo, enquanto em SP houve retrocesso: universidades estaduais com orçamentos mais apertados, menos docentes e ameaças a sua autonomia. Serra foi o primeiro governador, desde Maluf, a nomear um reitor diferente daquele indicado pela comunidade acadêmica para a reitoria da USP, mesmo universidade que, no ano passado, foi atacada pela tropa de choque de Serra com bombas e cacetetes, agredindo alunos, funcionários e docentes. E ele ainda se considera democrático. Talvez, para ele, democracia signifique impor obediência a todos, ainda que pelo uso da força.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O eleitor cordial.

Diante dos acontecimentos dos últimos dias, me vi obrigado, novamente, a discutir a questão do homem cordial buarqueano. Primeiramente, peço a quem não conhece a definição de Sérgio Buarque de Holanda para o homem cordial, que leia este texto antes de prosseguir: http://vermelhosobreazul.blogspot.com/2010/10/o-brasileiro-um-homem-cordial.html.

Pois bem, às vésperas do primeiro turno, e-mails caluniosos sobre Dilma e uma suposta orientação da CNBB, mais tarde desmentida por ela própria, para que os católicos não votassem em Dilma abalaram as convicções de uma parcela expressiva do eleitorado. O resultado foi o que se viu: Dilma, que segundo as pesquisas iria vencer já no primeiro turno, foi bem menos votada. Foi uma jogada muito inteligente da oposição abalar emocionalmente as pessoas a poucos dias da eleição, sem dar tempo para que o adversário se defenda nem para que a polícia investigue denúncias veiculadas pela mídia no calor da hora.

Eis a exploração do lado ruim da cordialidade brasileira, algo que não é novo no Brasil: foi exatamente dessa maneira que a direita conseguiu impor sua vontade ao povo em sucessivos golpes de estado, como o famoso plano Cohen, que amedrontou a população e a induziu a aceitar uma ditadura de Vargas achando que assim estaria livre de uma ameaça comunista que, hoje se sabe, jamais existiu. A mesma idéia de ameaça comunista serviu para fazer o brasileiro aceitar calado o golpe de 64, que instituiu a mais terrível ditadura da nossa história. E o que é que a mídia tem feito desde a escolha de Dilma para ser candidata do PT nesta eleição? A associou ao comunismo, mas não adiantou, pois o povo sabe que o muro de Berlim já caiu há muito tempo. Então a acusaram de ser uma terrorista sanguinária, na tentativa de impor medo à população e induzi-la a votar em Serra. Algumas pessoas se convenceram disso, mas a maioria percebeu que a conduta exemplar da ministra ao longo dos últimos oito anos não é compatível com o terrorismo. Então veio o apelo religioso, divulgaram que Dilma é atéia, alguns a acusam até mesmo de satanismo, enquanto Serra é cristão (mesmo depois de ter assinado em 98, como ministro da saúde, documento legalizando o aborto). Dilma é separada, enquanto Serra tem uma família de propaganda de margarina (segundo a mídia). Dilma é a favor do aborto, Serra é contra (quem foi que assinou aquela lei mesmo...?). E assim os ataques prosseguem, apelando a assuntos que nada têm a ver com a função de um presidente da república. Por que motivo fazem isso? Porque sabem que o brasileiro é cordial e esses temas mexem com emoções e valores morais das pessoas.

Assim, vendo que o povo já não se deixa manipular tão facilmente e que certas estratégias do passado já não funcionam, a direita tratou de buscar estratégias extremas para voltar ao poder: estratégias de marketing e de inteligência militar das mais sujas, conforme se pode ver neste artigo de Rodrigo Vianna: http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/as-cinco-ondas-da-campanha-contra-dilma-sao-tecnicas-de-contra-informacao-militar.html.

O referido artigo cita um outro, muito interessante e que merece ser lido com calma e atenção: um repórter com experiência em jornalismo investigativo conseguiu, usando o google, descobrir de onde partiu um e-mail calunioso contra Dilma: http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/boateiro-tem-nome-e-sobrenome-email-contra-dilma-partiu-de-gente-ligada-a-extrema-direita.html. Trata-se de Nei Mohn, conhecido ativista de extrema-direita, que foi presidente da Juventude Anti-Comunista (mais conhecida como Juventude Nazista) em 1968, suspeito de atos terroristas e de falsificação de um jornal da Igreja Católica, bem como de ter torturado três crianças, filhas de sua ex-mulher. Todas estas informações foram publicadas em revistas de circulação nacional na década de 80, e podem ser consultadas em um acervo digitalizado da Universidade Federal de São Carlos:

Sei que, aparentemente, parece ser uma teoria conspiratória maluca, como tantas que há por aí, mas, tendo um conhecimento razoável da história do Brasil, especialmente das relações de poder, é fácil perceber que, infelizmente, isso pode sim ser real. Já vimos, às vésperas do primeiro turno, uma mídia furiosa atacar Dilma com todas as suas forças, soltando um monte de denúncias que pareciam ter sido preparadas especialmente para a ocasião. Não me surpreenderei nenhum pouco se estourarem escândalos, acontecerem supostos atentados para incriminar o PT ou qualquer coisa do tipo. Isso já aconteceu no Brasil em outras épocas e está acontecendo novamente.

O que foi todo aquele teatro sobre um suposto rolo de fitas adesivas lançado contra Serra? A Dilma, atacada por um militante tucano com uma bexiga cheia de água, não quis fazer uso político disso, enquanto a Globo mostra uma imagem de péssima qualidade onde se vê um borrão que um perito analisou e concluiu que era somente um artifact de compressão de vídeo (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/professor-confirma-armacao-da-globo. Ainda não se convenceu? Veja isto: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-cinco-erros-de-molina). Além disso, volto a insistir, por que Serra não fez exame de corpo de delito, nem fez BO? E onde foi parar o artefato, a prova do crime? E o machucado na careca de Serra, cadê? Nunca vi ninguém se machucar ao ser atingido por um objeto desses nem precisar fazer tomografia depois disso. O que sei é que, sendo o Dr. Jacob Kligerman um grande amigo de Serra, é bem provável que tenha feito esse favorzão em troca do ministério da saúde caso o Serra for eleito.

O fato é que, em outros países, as pessoas não costumam mudar sua intenção de voto só porque um candidato sofreu uma agressão, afinal, o fato de um homem ter sido atingido na cabeça por uma bola de papel não nos informa nada a respeito de sua aptidão para ser presidente da república. Ou será que alguém contrataria um funcionário usando como critério quantas agressões ele recebeu ao invés de sua competência para o trabalho?

Acredito que este episódio pode ter sido combinado, talvez a bolinha tenha sido lançada pelos próprios militantes tucanos só para manchar a imagem do PT, que por sinal, nada tem a ver com atitudes individuais de seus membros ou simpatizantes. Hoje sabemos que durante a ditadura militar o governo realizava atentados terroristas para culpar grupos de esquerda, usando a Rede Globo como sua principal máquina de propaganda. A direita brasileira sabe muito bem como amedrontar a população e culpar a esquerda, afinal, é diplomada na Escola das Américas.

Por isso ando preocupado, pois sei que alguma bomba vai estourar (pode até ser que estoure literalmente) às vésperas da eleição.  Talvez seja só um dossiê ou uma denúncia de corrupção no governo, como é de praxe, mas temo que haja uma apelação, talvez a maior já vista no Brasil até agora, para causar pânico. A direita já mostrou que não está para brincadeira e com certeza já tem algo preparado para amedrontar os eleitores e prejudicar o PT. Só espero que o PT tenha percebido isso e se preparado para remediar a situação.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mais sobre a bolinha de papel

Fatos interessantes:

- Segundo a física, não houve a possibilidade de ferimento: http://vermelhosobreazul.blogspot.com/2010/10/uma-aula-de-fisica.html

- O médico q deu entrevista depois indicou que Serra teve um ferimento no crânio e apontou com a mão o lado esquerdo, sendo que Serra levou a "bolada" no lado direito.

- O referido médico foi nomeado pelo então ministro Serra, em 98, para o cargo de Diretor-Geral do INCA. http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=253. também trabalhou como Secretário Municipal de Saúde no Rio, durante a gestão César Maia.

- Serra já tinha tentado o golpe da careca machucada (Correio do Povo, 05/09/10).http://tirando-a-limpo.blogspot.com/2010/10/serra-ja-tinha-tentado-o-golpe-da.html

- Resultado de tudo isso: um jogo em flash cujo objetivo é acertar uma bolinha de papel nele: http://www.emoticonscrap.com/bolinhadepapelserra.swf O resultado é exibido na forma de tomografia!

Como dizem os tucanos: contra fatos não há boatos! E o SBT desmascarou a Globo.

Uma aula de física

Sinto um ambiente estranho. Estamos chegando à última semana de campanha eleitoral e, após as trocas de acusações e os novos escândalos que marcaram as semanas anterior e posterior a 3 de outubro, tudo estava surpreendentemente tranqüilo, sem nada de novo. Clima de conspiração. E eis que ontem acontece o episódio em que Serra é atingido por uma bola de papel na cabeça:(http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/?c=1172). O episódio, flagrado pela câmera da reportagem do SBT, permitiu a Serra fazer uso eleitoral dos fatos de maneira mentirosa (basta ver os primeiros 40 segundos de vídeo: http://eleicoes.uol.com.br/2010/ultimas-noticias/multi/?hashId=corrida-ao-planalto-horario-eleitoral-da-tarde-de-2110-04021B3770C08993C6&mediaId=6910876), visto que é fisicamente impossível que um objeto pesado tenha colidido daquela forma com a cabeça do candidato.

Pois bem. Vejam o vídeo e tirem suas próprias conclusões. Sei muito bem do que estou falando, pois cursei física na Unicamp e o conhecimento necessário para estudar a trajetória deste objeto e sua colisão exige somente a física do colegial. É muito simples: um objeto abandonado no ar fica sob a ação exclusiva da gravidade e inicia uma trajetória parabólica, encontrando, em seu caminho, a cabeça de Serra. Devido ao choque, o objeto é desacelerado até parar (processo em que converte sua energia cinética em energia potencial elástica). Em seguida, ocorre o processo inverso: a energia potencial elástica é convertida em energia cinética e o objeto inicia uma nova trajetória parabólica, saindo da região coberta pela lente da câmera.

Pois bem, no momento da colisão, o que se esperaria? O objeto estava em movimento e a cabeça de Serra em repouso. Para ambas vale o princípio da inércia, segundo o qual o objeto tende a continuar seu movimento e a cabeça de Serra tende a continuar parada. Assim, o que aconteceria se um objeto pesado atingisse a cabeça? Por ter inércia maior, faria a cabeça de Serra entrar em movimento (o famoso "tranco"). No entanto, a cabeça do candidato não sai do lugar, o que indica que sua inércia é muito maior do que a do objeto, ou seja, trata-se de um objeto cuja massa é desprezível em relação à massa da cabeça. Uma bola de papel parece ser mesmo a hipótese mais plausível.

E com relação a machucar? Se fosse um objeto pesado, como afirmaram hoje no horário eleitoral gratuito, Serra teria uma cicatriz na cabeça. Onde está? por que ele não a mostra? Mais do que isso, o vídeo mostra fotos do candidato com as mãos sobre a cabeça, escondendo o local do suposto ferimento e fingindo sentir dor. As imagens do SBT deixam claro que, imediatamente após a colisão, Serra nem mesmo leva as mãos em direção à cabeça, se limitando a buscar com os olhos o objeto que o teria atingido, um reflexo, como quando alguém nos dá um tapinha nas costas. As fotografias dele com as mãos sobre a cabeça foram, portanto, tiradas depois do episódio.

O fundo está escuro, mas, aparentemente, os militantes do PT se encontravam, naquele momento, do lado oposto, e a bola parece ter vindo de dentro de uma loja. Pois bem. Restam duas questões: onde está o objeto, a prova do crime? Ele apareceu nas imagens, caiu no chão ali por perto e as pessoas ao redor de Serra deram sumiço nele ao invés de exibi-lo para as câmeras de TV? Muito estranho... E por que Serra não fez B.O. ou, pelo menos, um exame de corpo de delito para comprovar a acusação que faz aos militantes do PT?

O fato é que provavelmente Serra aparecerá diante das câmeras de TV, de hoje em diante, com um curativo na cabeça. Mas jamais se atreverá a arrancá-lo, para não gerar provas contra si mesmo. Quem viver verá.

No entanto, não duvido que façam um ferimento na cabeça de Serra para exibir na TV, pois, como dizia Maquiavel, "os fins justificam os meios", e a equipe de Serra segue essa cartilha à risca. Mas as imagens do SBT são uma prova incontestável de que é tudo uma farsa.

Em tempo: enquanto Serra se queixa de ter recebido uma bolinha de papel na cabeça, um militante do PT no AC foi assassinado covardemente por um eleitor de Serra: http://www.oestadoacre.com/index.php?option=com_content&task=view&id=5327&Itemid=1. Um voto a menos para Dilma.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A cada um segundo seu mérito

Há poucos dias tomei conhecimento de que grandes intelectuais brasileiros lançaram um manifesto lançando apoio a Dilma. Tenho a honra de conhecer um deles, que foi justamente quem me contou sobre este manifesto, há dois dias.

Não creio ser necessário fazer muitos comentários a respeito deste manifesto, pois o próprio texto já diz tudo, mas lamento que a mídia simplesmente ignore este documento, pois, se um grupo de meia dúzia de "cerebridades" (sic) da Globo resolvesse fazer um manifesto (lembram do Cansei?) pró-Serra, certamente seria capa dos principais jornais do país e, claro, da Veja. Os grandes órgãos de imprensa têm razão ao afirmar que a liberdade de opinião no Brasil está ameaçada. Está sim: ameaçada por eles, que demitem colunistas que discordam da opinião institucional, ignoram as notícias que contrariam suas opiniões, censuram cartas de leitores que discordam do ponto de vista do colunista, transformam boatos em evidências, evidências em provas, provas em julgamento e julgamento em condenação, além, claro, de despolitizarem o debate em torno de tudo o que se faz em política no Brasil.

Recentemente a mídia, outrora fervorosa defensora do Estado laico, passou a se preocupar com a religiosidade dos candidatos, a publicar fotos excessivas de Serra fazendo orações ou o sinal da cruz, dando a entender que ele é um homem de Deus. Dilma, por se opor a ele, só pode ser...? Ora, como se não bastasse isso, há, na internet, diversos vídeos de líderes religiosos dizendo a seus fiéis para votarem ora em Serra, ora em Dilma. francamente, é esse o papel de um sacerdote cristão?

Se você, leitor, é cristão, saiba que um dos trechos mais conhecidos da bíblia diz que, ao ser indagado sobre ser ou não correto pagar o imposto a César, Jesus respondeu "dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus". Esta frase basta para esclarecer a todo cristão que Jesus é contra a intromissão da Igreja em assuntos do Estado. O Estado cuida das coisas mundanas e a Igreja de coisas espirituais. São coisas diferentes e Jesus nunca se intrometeu na política. Portanto, o verdadeiro líder cristão é aquele que tem suas convicções políticas como qualquer cidadão, mas não usa sua posição para influenciar seus fiéis, consciente de que cada um deve votar de acordo com suas próprias convicções e sua própria consciência. Pois hoje em dia há quem chegue a associar este ou aquele candidato ao demônio e seu adversário a Deus. Ora, Deus não se intromete nesses assuntos. Nem ele nem o diabo apóiam Serra ou Dilma. Portanto, devemos reagir a esse oportunismo da mídia e de certos sacerdotes que desejam explorar a fé das pessoas para conseguir votos para um candidato.

Voltando à questão da liberdade de imprensa, hoje a ONG Repórteres sem Fronteiras divulgou seu ranking de países que melhor colaboram com a liberdade de imprensa: o Brasil subiu 13 posições. poderia ter subido mais se não houvesse a censura, imposta pelo poder judiciário, ao jornal O Estado de S. Paulo. A mídia brasileira, que vive afirmando que Lula é um ditador que luta contra a liberdade de imprensa (que ditador é esse que dá total liberdade à mídia para meter o pau nele?), tem apresentado esta notícia de forma a frisar a questão da censura ao Estado (que a mídia associa a Lula, que nada tem a ver com o judiciário, e à censura das ditaduras de outrora para criar a imagem do Lula ditador) e atribuindo a melhora à redução do número de assassinatos de jornalistas no Brasil (cuja causa é...?).

Imagino como seria se os Repórteres sem Fronteiras mudassem os critérios de pontuação de seu ranking e passassem a considerar também a censura interna da mídia, a demissão de colunistas que não concordam com a opinião do jornal, dentre outros fatores desconsiderados por eles. Nesse caso o Brasil despencaria nesse ranking e botariam a culpa... adivinha em quem?

Eis o manifesto de artistas e intelectuais pró-Dilma. Vale a pena ler o texto do manifesto. As assinaturas que aparecem na páginas são só algumas, o documento é assinado por muito mais gente.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Política externa no rumo certo

O famoso complexo de vira-lata, como é chamado o sentimento de inferioridade do brasileiro em relação aos estrangeiros, tem origens muito antigas e profundas. Até 1933, jamais alguém se atreveu a defender a tese de que a miscigenação é a nossa maior força (o que foi feito por Gilberto Freyre em Casa Grande & Senzala). Ao contrário, o brasileiro se sentia condenado a uma condição inferior por ser fruto da mistura de três raças.

O conceito de raça foi colocado em xeque e substituído pelo de cultura no estudo das particularidades dos povos, mas o complexo de vira-lata continuou existindo: nossa cultura é híbrida, resultado da mistura de três outras culturas e, portanto, somos inferiores. Felizmente, a semente plantada por Gilberto Freyre conseguiu germinar, e hoje em dia o brasileiro se vê ora como inferior, ora como superior devido a sua condição cultural. As mesmas pessoas que num dado momento estão falando mal do Brasil repentinamente demonstram orgulho por ser brasileiras, basta mudar o assunto.

O fato é que a colonização portuguesa deixou marcas profundas em nossa cultura, sendo uma delas a admiração pelo estrangeiro, fruto do descaso da metrópole pela colônia, do contraste entre a pobreza dos mineiros que extraíam o ouro das Minas Gerais com o luxo dos palácios de Lisboa, bem como da proibição de atividade econômica voltada para o mercado interno no Brasil, que nos obrigava a importar tudo.

Dessa forma, aprendemos a preferir o que vem de fora, e a falta de universidades no país obrigava os jovens brasileiros a irem estudar na Europa, voltando de lá não apenas com diploma, mas também com outra visão de mundo, muitas vezes inadequada à realidade brasileira.


A arquitetura das capitais brasileiras de até um século atrás buscava imitar a européia. Pior: a elite brasileira, após passear bobamente pela Europa e não entender nada daquilo, vinha para o Brasil com o desejo de ter uma casa com telhado como os de Paris, colunas como as da Itália, janelas como as da Alemanha e assim predominou, na arquitetura das capitais brasileiras, um estilo eclético que nada diz a respeito de nossa identidade cultural a não ser o fato de termos sido docilmente colonizados. Somente nas fazendas, vilas e cidades provincianas, geralmente afastadas do mar desenvolveram uma arquitetura que expressava a realidade local: a arquitetura colonial brasileira, desenvolvida pela necessidade de se construir usando o material que havia disponível. E assim nasceram Ouro Preto, São Luís do Paraitinga, Paraty e tantas outras cidades que concentram nosso genuíno patrimônio arquitetônico.



Com a ascensão dos EUA à posição de potência hegemônica, a elite brasileira, cansada de passear em Paris, passou a visitar Nova York. A escola brasileira, inspirada no modelo francês, foi aos poucos sofrendo mudanças para se assemelhar ao modelo ianque. A política externa brasileira, voltada para a Europa, se voltou para os EUA. Resumindo, o Brasil sempre buscou se espelhar em um país, ou um grupo de países, estrangeiro, e implantar aqui soluções estrangeiras inadequadas à nossa realidade, o que também não é novidade em terras tupiniquins, visto que já no período colonial, sucessivas tentativas de aplicar técnicas agrícolas euroṕeias no Brasil fracassaram, e os melhores resultados foram obtidos a partir do uso de técnicas indígenas de cultivo.

Também no campo das políticas públicas sempre buscamos nos espelhar no estrangeiro: os políticos paulistas de um século atrás sonhavam transformar São Paulo em uma Paris tropical, assim como os de hoje querem transformá-la em uma nova Nova Iorque. As publicações sociológicas sobre o Brasil até a década de 1930, quase sempre escritas por brasileiros que moraram na Europa ou nos EUA, comparavam nosso país aos, à época, ditos "civilizados". O Brasil, historicamente, sempre desprezou a melhor característica do brasileiro, que é a capacidade de resolver problemas propondo soluções inovadoras, e sempre olhou para fora, importando soluções para seus problemas e se preocupando mais em vender comida para os gringos do que para seus próprios filhos.

Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, atentava sobre as vantagens de se comparar a realidade brasileira com a dos países vizinhos, cujo clima é semelhante ao nosso e sua cultura, também de origem ibérica, muito mais próxima da nossa. Assim, a integração (não apenas econômica, mas também cultural) com a américa latina seria o melhor caminho para resolvermos nossos problemas e ganharmos projeção internacional, mas, como disse Darcy Ribeiro sobre os governantes do Brasil no ato contra a privatização da Vale (http://vermelhosobreazul.blogspot.com/2010/10/as-licoes-dos-mestres.html): "Eles são bisonhos, são jovens com a cabeça feita lá fora. Eles não têm nada de patriótico, eles não têm compromisso conosco. É gente que nunca fez nada na vida e nem é provável que venha a fazer. Essa gente quer vender, quer entregar o Brasil porque acha melhor. Essa gente usa o Brasil, usa a Nação, para alcançar os seus objetivos.".

Pois é exatamente assim que agem os políticos conservadores, que querem manter em pleno século 21 a mesma forma de governar que nunca vai dar certo: é gente "com a cabeça feita lá fora" que não percebe que priorizar acordos com as potências hegemônicas é uma forma mais recente de pacto colonial. Não percebe que as soluções trazidas de fora só servem para defender interesses externos. Não percebem que ninguém conhece o Brasil melhor do que os brasileiros. Dizia Mário de Andrade, no Manifesto Antropófago: "esquecemos o gavião de penacho". Hoje finalmente nos lembramos dele: o país está dando grande importância ao mercado interno e buscando novos mercados fora das grandes potências. Descobrimos que a América do Sul existe. É somente a partir de uma maior integração sul-americana que o Brasil poderá se consolidar como uma liderança regional e ganhar a tão sonhada projeção internacional.

Eis a diferença fundamental entre a política externa do atual governo, de Lula, e a do governo anterior, de FHC: O Brasil de agora está aprendendo a olhar para si mesmo e para seus vizinhos. Descobriu-se. Não quer mais ficar sobre a tutela dos gringos, e sim seguir sua vocação. É hora de crescer.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A educação em SP

Sou paulista e estudei em escola pública até a oitava série do fundamental, ou seja, de 1990 (pré-escola) até 1998 (oitava série), último ano do primeiro mandato de Mário Covas no governo de SP e de FHC no governo federal.


Na minha época a escola pública oferecia ensino muito melhor do que oferece hoje. Os alunos de 2a série sabiam ler, embora com certa dificuldade, coisa que os alunos de 5a série de hoje não sabem. Os professores podiam reprovar os alunos, o que lhes garantia autoridade na sala de aula. Além disso, a aprovação servia como prêmio aos alunos mais dedicados e a reprovação era uma punição aos que não estudavam. Além disso, mudaram também o método de alfabetização: trocaram a cartilha pelo método construtivista.

Não sou contra a alfabetização por este método, implantado em SP pelo governo tucano. Conheço gente que foi alfabetizada em escolas particulares por este método e garante que adorou e aprendeu muito, mas essa não é a realidade da escola paulista pela simples razão de que o governo faz tudo pela metade: uma ex-aluna de escola construtivista (que foi alfabetizada há quase 20 anos em uma instituição particular) me contou que eram duas professoras cuidando de uma sala com 25 alunos. O mesmo método funciona na escola paulista, com 40 alunos em uma sala com uma única professora. O Serra diz na tv que as escolas agora têm duas professoras. Em quantas? Duas? Seis? Vinte? Basta visitar a escola mais próxima para descobrir que isso está distante da realidade da maioria dessas instituições, assim como o ensino integral.

O fato é que além de ter que alfabetizar por um método inadequado à condição da escola, o professor primário de SP ainda tem outro desafio: com a aprovação automática, o professor do segundo ano precisa cuidar dos alunos em fase com a programação do segundo e dos que estão defasados, sendo que os níveis de defasagem podem variar muito, assim como há os alunos mais adiantados. Assim fica difícil o acompanhamento e a própria justificativa para se separar os alunos por série fica comprometida: os alunos devem ser agrupados de acordo com o nível de conhecimento de cada um, para permitir que o professor acompanhe seu aprendizado de maneira mais eficaz.

Passemos ao ensino médio: como estudante de licenciatura, tive que fazer estágio em uma escola estadual e a realidade que encontrei foi muito abaixo das minhas expectativas: o professor não tinha autoridade em sala de aula e os alunos não se importavam em estudar porque sabiam que iriam ser aprovados de qualquer jeito. O diretor se recusava a lidar com alunos indisciplinados argumentando que lugar de aluno é na sala de aula e o professor, sem outra opção, procurava acompanhar os alunos interessados em aprender enquanto os demais bagunçavam.

Como se vê, a realidade da escola paulista não é nenhuma maravilha. Mas, então, como é que Serra se vangloria de que a educação em SP apresenta bons resultados? Em primeiro lugar, os índices de aprovação são altissimos: o aluno só é reprovado quando seus próprios pais entram na justiça e convencem o juiz de que seu filho não está preparado para passar de ano, o que raramente acontece. Além disso, os critérios de avaliação da prova do Saresp já foram mudados algumas vezes, impedindo uma comparação real com anos anteriores. Na televisão, a comparação é muito simples: o desempenho dos alunos no Saresp melhorou. Na realidade, a melhora se deve a uma redução no nível de dificuldade da prova. Assim se maquia o problema, mas sob a capa de uma escola cada vez melhor se esconde a realidade: que cidadãos estamos formando? Que profissionais estamos formando? Qual vai ser o futuro do país enquanto a educação continuar sendo tratada com tanto descaso? Recentemente li uma notícia de que as empresas estão investindo cada vez mais em qualificação de seus profissionais. Será a causa disso a baixa qualidade do ensino público, que já começa a mostrar seus efeitos?

Além disso, há a necessidade  de se valorizar o trabalho dos profissionais da área de educação. Os professores têm sofrido com o arrocho salarial, que é compensado por uma política de substituir os salários por bônus proporcionais às faltas (se o professor fica doente não recebe bônus), sendo que os aposentados não têm direito a nenhuma gratificação. Um professor trabalha uma vida inteira para, após se aposentar, perder seus benefícios e ter ainda mais dificuldade para custear suas despesas.

Enfim, há muito mais a ser discutido sobre educação, então vou ficando por aqui, depois voltarei a tratar do tema.

domingo, 17 de outubro de 2010

As lições dos mestres

Hoje refleti sobre um discurso de Darcy Ribeiro feito um mês antes de sua morte, na Associação Brasileira de Imprensa, por ocasião da decisão do governo de privatizar a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Eis o discurso, além de um vídeo de FHC afirmando que quem mais lutou pelas privatizações em seu governo foi José Serra: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17051.

Darcy, em cadeira de rodas, disse a seus amigos, à época: “Vou ao ato na ABI pela Vale nem que seja carregado”. A leitura dessa frase me trouxe à mente um gesto parecido, de Sérgio Buarque de Holanda, um dos professores de Darcy Ribeiro na antiga Escola de Sociologia e Política de São Paulo: doente e com sérias dificuldades de locomoção, Sérgio fez questão de ir ao Colégio Sion no dia 10 de fevereiro de 1980 para participar da fundação do PT, o primeiro partido político brasileiro criado por iniciativa popular.

O gesto de Sérgio tem um significado simbólico muito forte: em Raízes do Brasil, publicado em 1936, ele argumentava que a forte urbanização pela qual nosso país passava, bem como a industrialização inerente a ela, iria resultar em uma mudança profunda de nossa organização social, da qual a classe operária surgiria como uma nova força política. O golpe de 64 foi uma tentativa de impedir o curso de um processo histórico a partir da velha fórmula que as elites sempre usaram para manter o povo sob seu domínio ao instaurar ditaduras: aumento dos direitos sociais em troca da redução dos direitos civis e políticos. Deu no que deu. A ditadura terminou e o processo seguiu seu curso com os trabalhadores fazendo greves e reivindicando direitos. Até aí nada de novo: greves e reivindicações eram comuns em São Paulo, pelo menos, desde a época da imigração italiana. A novidade é que a luta dos trabalhadores, no final da ditadura, estava se modificando: saindo de dentro da fábrica e indo para as ruas. Já não se tratavam mais de greves dentro das fábricas, mas de greves de toda uma categoria profissional unida (o que também já existia antes, mas a novidade é a politização crescente dos movimentos sindicais), ou até mesmo uma greve geral, como aquela que é considerada um marco do fim do regime militar.

À frente deste processo de unir os trabalhadores para juntos terem mais poder reivindicatório, estava o atual presidente Lula. A luta dos trabalhadores, antes restrita às negociações com o patronato, passou a ser também política: os trabalhadores precisavam ter seus interesses defendidos no congresso,  o que só seria possível através de um partido que os legitimasse como força política. E assim surgiu o PT.

Tratava-se, portanto, de uma novidade no Brasil, que atraiu diversos intelectuais, como Sérgio Buarque, Antonio Candido e Darcy Ribeiro, justamente por representar uma força política destinada a representar aqueles outrora excluídos da representação política. A reação das elites, que viu nisso uma ameaça a seus privilégios, não tardou a reagir, aproveitando-se da inspiração marxista que originou o PT para associá-lo aos comunistas comedores de criancinhas, assim como se faz hoje em dia nas capas da Veja.

É verdade que o PT daquela época, como toda força política nova, era caracterizado por um certo radicalismo ideólogico, fruto da própria inexperiência com o poder. Com o tempo, o PT foi conhecendo a diferença entre teoria e prática, aprendendo sobre a importância de fazer alianças e de respeitar os interesses de todos. É importante frisar que a inspiração marxista do partido não implica em comunismo, já que os estudos de Marx buscavam compreender o sistema capitalista, tendo as relações de trabalho como ponto central. Aliás, a queda da URSS aconteceu há muito tempo e não faz sentido apostar neste modelo hoje em dia. Muita gente não vê diferença entre direita e esquerda justamente por associar direita ao capitalismo e esquerda ao comunismo. Não é mais assim, a diferença básica, hoje em dia, é que a direita é mais apegada à manutenção das tradições, buscando fortalecer as grandes corporações para que elas aumentem sua produção, gerando receita para o governo, enquanto a esquerda defende a humanização do capitalismo, dando ao Estado um papel mais ativo na economia e buscando maneiras de assegurar que todos se beneficiem do crescimento econômico.

Essa nova realidade, no caso do Brasil, fez com que tanto a direita quanto a esquerda passassem a se preocupar em atrair investimentos externos, equilibrar as contas públicas e investir em infra-estrutura para permitir o aumento da atividade produtiva, responsável pela geração de empregos. A diferença é que a direita faz isso pensando exclusivamente em aumentar a receita do Estado para poder garantir a continuidade do crescimento econômico, enquanto a esquerda busca, também, garantir que esse crescimento beneficie a todos.

A questão das privatizações poderia ser irrelevante nos países onde as empresas nacionais possuem grande capacidade de investimento, mas não é o caso do Brasil: aqui, excetuando-se as estatais, ninguém pode investir muito no país, e por esse motivo todas as empresas privatizadas caíram nas mãos de estrangeiros, ainda que em muitos casos houvesse participação do capital nacional (Estou desconsiderando a privatização da Nossa Caixa, que é um exemplo interessantíssimo: enquanto o governo tucano de SP buscava se livrar de suas estatais, o governo federal petista tinha interesse em fortalecer o Banco do Brasil). A Vale caiu em mãos de empreiteiras nacionais, mas os altos investimentos exigidos resultaram na participação cada vez maior de investidores estrangeiros na empresa. Darcy Ribeiro tinha razão: privatizar é deixar nossas riquezas nas mãos de quem só se preocupa com seus próprios lucros e não tem consideração pelo povo brasileiro. Basta uma crise econômica qualquer para os gringos demitirem os funcionários de suas filiais no Brasil, agravando os efeitos dela por aqui. Basta a diretoria da empresa optar por priorizar investimentos em um outro país qualquer e podemos esquecer todos os investimentos prometidos para o Brasil.

A próxima empresa brasileira que os tucanos desejam privatizar é a Petrobrás, que o governo FHC estava desmembrando para vender. No caso do petróleo, a situação seria muito mais desastrosa, primeiro porque, no caso da Vale, a existência de grandes empreiteiras no país que demandam grandes quantidades de minério resultou em uma alta participação nacional na empresa, mas e no caso da Petrobrás, quem a compraria? Só os grupos estrangeiros se interessariam por ela.

E o que significaria uma privatização da Petrobrás? Os tucanos quebraram o monopólio da estatal na exploração e refino de petróleo argumentando que é ruim para o país deixar a exploração limitada à capacidade de invstimento de uma única empresa. O fato é que isso nunca foi problema, tanto é que o país se tornou auto-suficiente em petróleo e somente durante o governo FHC (por motivos óbvios) o investimento da Petrobrás foi aquém do necessário. Quantas refinarias os grupos estrangeiros construíram no Brasil? Eles podem construir, inclusive brigaram muito para obter esse direito, então porque não constróem? Se não fazem isso agora não há razão para crer que farão no futuro. Pior do que depender da capacidade de investimento de uma empresa estatal é depender da vontade de executivos estrangeiros que podem, a qualquer momento, reduzir drasticamente os investimentos no Brasil devido à descoberta de um novo campo de petróleo no Iraque, por exemplo.

Isso explica porque Darcy Ribeiro se posicionou contra a venda da Vale, e certamente estaria dizendo o mesmo com relação à Petrobrás. Aliás, outro momento interessante de seu discurso se refere à visão tucana de pensar exclusivamente em termos econômicos, esquecendo-se a importância eestratégica e social de tais decisões políticas. A privatização pode resultar em aumento dos investimentos ou mesmo dos lucros, mas a que custo? Será que a Vale, após ser privatizada, passou a dar maior importância à preservação do meio-ambiente? Será que respeita todos os direitos trabalhistas de seus funcionários? Será que oferece treinamento adequado a eles com relação à segurança? Uma empresa privada pode até fazer isso, mas uma pública faz com certeza. Por fim, fica a questão primordial, já discutida: vale a pena dar a outros a responsabilidade de gerenciar recursos estratégicos?

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Coletânea de leituras recomendadas

Estarei viajando nos próximos dias e o blog não será atualizado. Contudo, deixo aqui textos que valem a pena. Alguns são extensos, mas abrangentes e altamente críticos.
Este faz uma análise profunda do cenário do segundo-turno com base nos novos papéis da esquerda e da direita no mundo contemporâneo, e de sua relação com os grupos sociais que as representam e legitimam.

Resposta de Sérgio Gabrielli às críticas de David Zylbersztein.
Descubra quem é Zylbersztein.

Luis Nassif, sobre a estratégia tucana de incitar o medo e o ódio como forma de induzir o eleitor a votar em um candidato que não apresenta propostas e vê nos ataques maciços à adversária uma forma de despolitizar a eleição.

Com relação a essa disseminação de um ódio sem fundamento, baseado em preconceitos do passado, vale a pena ler o meu artigo sobre o homem cordial (http://vermelhosobreazul.blogspot.com/2010/10/o-brasileiro-um-homem-cordial.html), pois o que vemos é justamente isso: na falta de propostas adequadas aos novos anseios da sociedade brasileira, os tucanos apelam para a velha cordialidade brasileira, incitando o ódio a partir da criação de esterótipos para Dilma e o PT e da divulgação de boatos através da mídia e da internet.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Estado forte ou Estado fraco?

Creio que a diferença fundamental entre as visões políticas de PT e PSDB seja a visão que eles têm da administração pública: enquanto os tucanos seguem a linha neoliberal, buscando enfraquecer o Estado e deixando tudo nas mãos do capital privado, o PT acredita em um estado forte que promova o desenvolvimento do país em todos os setores.

A questão é que, historicamente, o Brasil sempre dependeu de investimentos públicos para se desenvolver. As primeiras indústrias privadas brasileiras surgiam para atender a demandas do governo por certos produtos. Já as empresas estatais, foram criadas pelo próprio governo. Some-se a isso a proibição do governo português quanto ao desenvolvimento de atividade econômica significativa no Brasil: tudo tinha que ser importado. A sociedade escravocrata, na qual só os escravos trabalhavam, não nos deixou somente a mancha do racismo, mas também uma visão depreciativa do trabalho. Enquanto isso, nos EUA, a sociedade, seguidora da teologia calvinista, que prega o trabalho como uma forma do homem se redimir com Deus, criou um espírito empreendedor jamais visto antes. Conseqüência: a maioria das grandes empresas da atualidade têm sua matriz lá.

O brasileiro, como se vê, não tem um espírito empreendedor: monta uma padaria no bairro onde mora porque não há outra por perto, o lucro é garantido. Mesmo os pequenos empresários dificilmente pensam em expandir seus negócios, basta conseguir sustentar sua família e pronto. Um bom exemplo disso é constatar a realidade dos universitários brasileiros, todos sonhando em trabalhar no serviço público ou em multinacionais. Ao contrário de seus colegas estadunidenses que pensam em abrir o próprio negócio e ganhar dinheiro oferencendo algum serviço diferenciado ou desenvolvendo alguma tecnologia inovadora.

O modelo econômico que o PSDB quer implantar no Brasil é, portanto, inadequado à realidade nacional. Somos um país importador de tecnologia e as empresas estrangeiras se instalam aqui interessadas apenas em ganhar mercado e conseguir mão-de-obra e matéria-prima mais baratas. O empresário brasileiro não busca novas oportunidades de agregar valor a seu produto. Exemplo: prefere exportar café em grãos a investir em beneficiamento e exportá-lo em pó. O gringo ganha dinheiro transformando o grão em pó.

Para um país ser forte e competitivo é preciso, antes de mais nada, ter tecnologia própria, sendo que no Brasil quase todos os investimentos em pesquisa são financiados pelo governo. Qual país conseguiu se tornar competitivo no mercado internacional sem ter tecnologia própria? A Embraer e a Petrobrás, as principais transnacionais brasileiras, são empresas que possuem tecnologia de ponta desenvolvida por elas mesmas, senão teriam tido o mesmo destino da Gurgel.

As privatizações feitas pelo PSDB trouxeram qual benefício para o país? Os orelhões da Telesp funcionavam muito bem. Raramente a ligação caía. Agora uso os da Telefonica e a ligação cai sempre. Qualquer orelhão da Unicamp é a prova do que digo. A distribuição de energia elétrica também caiu muito em termos de qualidade. Quando a CPFL era pública o fornecimento de energia elétrica só era interrompido quando acontecia algo muito sério, como queda de poste. Agora falta energia elétrica com muito mais frequencia: meu bairro tem uns dois blecautes demorados por ano, sem contar que quase toda semana a luz dá uma piscadinha ou fico alguns minutos sem eletricidade em casa. Será que o orelhôes da Telefonica na Espanha são ruins como os brasileiros? Será que em outros países onde o fornecimento de energia elétrica é privado há tanta queda de energia? Esse tipo de modelo pode se adequar bem à realidade de outros países, mas não à brasileira.

Além disso, outra questão a ser considerada é: por que enfraquecer o Estado? Como vimos, impedir o Estado Brasileiro de promover o desenvolvimento econômico do país equivale a colocar todas as nossas riquezas e serviços fundamentais inclusive para a segurança nacional nas mãos de estrangeiros interessados apenas em se apoder de tudo e ficar com o dinheiro para eles. Quando não tiver mais nada eles vão embora e deixam o povo brasileiro sem condições de se desenvolver. É a mesma lógica que nos colonizou: o português chegava aqui interessado em explorar as riquezas do Brasil para ter uma vida luxuosa na Europa. Vamos aceitar uma nova colonização?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Rapidinhas

Eis a nota do Conselho Federal de Psicologia sobre a atitude antidemocrática de O Estado de S. Paulo, que demitiu a colunista somente porque ela se manifestou de maneira contrária à opinião do jornal.


Um bom exemplo de hipocrisia: a turma do Serra, agora empenhada em combater a homossexualidade e o aborto, sempre esteve do outro lado. Serra, quando ministro da saúde, assinou a primeira lei brasileira a permitir aborto, que, aliás, foi de autoria de uma senadora do PSDB (suplente de Serra no senado que assumiu o lugar dele quando este abandonou o cargo para ser ministro) e assinado, também, por FHC. Eis o que disse, à época, o Padre Léo da Canção Nova: http://www.youtube.com/watch?v=tXTMkA2eGHc

E o vice de Serra, Índio da Costa, participa a Frente Parlamentar pela Cidadania GLBT, que trabalha pelos direitos dos homossexuais (http://www.aliadas.org.br/site/congresso/depsen2.php?tip=Deputado). Depois vem fazer discurso moralista na TV. Como é que ele agora vem dizer que pretende vetar a criminalização da homofobia? http://www.sidneyrezende.com/noticia/103729+gays+vao+protestar+contra+vice+de+jose+serra


Quer mais sobre aborto? Soninha Françoso, que admite ter feito aborto, é uma das coordenadoras da campanha de Serra. Será que ele vai bater nela?


E não tratemos mais de aborto, a CNBB não se posiciona a favor de Serra, como alguns boletins mentirosos divulgam por aí: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=8&id_noticia=138826

Liquidada a questão do aborto, que jamais deveria ter entrado na pauta da disputa presidencial e muito menos ter se tornado o tema principal, e vamos adiante, discutir questões estratégicas para o desenvolvimento do país.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Coisas para inglês ver.

Segundo José Murilo de Carvalho, a expressão “para inglês ver”, que significa lei ou promessa feita por mera formalidade, sem jamais ser efetivamente posta em prática, surgiu quando o governo brasileiro criou, em 1831, uma lei proibindo o tráfico negreiro para cumprir exigência de um tratado assinado com a Inglaterra, mas na prática a lei nunca saiu do papel, só servia para inglês ver.

Tal expressão é um retrato do Brasil, país onde o que importa são as formalidades. Já no período colonial era comum as famílias brasileiras viverem de forma humilde, por não terem condições de comprar certos alimentos, que custavam caro, e roupas novas. Mas essas mesmas famílias tinham belos vestidos caríssimos guardados para ocasiões especiais, e sempre que recebiam visita colocavam roupas chiques e ofereciam banquetes a autoridades da coroa e da igreja. Resultado: em Portugal se pensava que os brasileiros eram riquíssimos e daí resultava que o rei mandava aumentar os impostos, tornando os brasileiros ainda mais pobres.

Portanto, nossa cultura se baseia em formalidades. Importa a beca, não a cabeça. Por isso mesmo tanta gente grita que deveria haver vestibular para escolher os parlamentares ao invés de uma eleição onde analfabeto também vota. Ninguém se lembra que Amadeu Amaral, um dos grandes intelectuais brasileiros da primeira metade do séc. XX só estudou até a quarta série, o que não impediu que se tornasse um grande jornalista, cargo que não conseguiria ocupar se tivesse nascido um século depois, graças a esse pensamento mesquinho de julgar uma pessoa por um currículo baseado em títulos e formalidades. Qualquer opinião veiculada na internet hoje em dia é assinada por um doutor em alguma coisa ou por alguém famoso. Tem até poema de Fernando Pessoa com a palavra "internet". Ou seja: um anônimo qualquer escreve alguma coisa e lança na rede. Mas quem é ele? um desautorizado, então assina com o nome de um famoso ou de algum desconhecido que é doutor e dá aula na universidade da rua tal e todo mundo acredita, pois é a autoridade do autor, e não o mérito do texto, que importa.

O brasileiro se engana ou se deixa enganar? Reduzir tudo a formalidades, a aparências, não vai nos levar a lugar nenhum. A posição dos candidatos à presidência da república com relação ao aborto não é a questão sobre a qual devemos basear nossa escolha, até porque essa decisão cabe ao legislativo. O aborto é tolerado por nossa sociedade, inclusive pelas pessoas que discursam contra sua legalização. Ele existe, mas todos fazem vista grossa. O debate só tomou esta dimensão porque existir na prática é uma coisa, mas existir na lei é outra, inadmissível: lei para inglês ver.

Ontem comentei a postura vergonhosa da imprensa, que se diz democrática, mas demite os jornalistas que não concordam com a opinião oficial da instituição (http://vermelhosobreazul.blogspot.com/2010/10/censura-interna-da-midia.html). Um funcionário do Palácio do Planalto pode falar mal do presidente da república, "ditador" segundo a mídia, mas um funcionário do "democrático" jornal O Estado de S. Paulo é demitido por dar seus pitacos. O que a imprensa quer é implantar no Brasil uma democracia para inglês ver, onde quem concorda com o ponto de vista de meia dúzia de donos de jornais é cidadão consciente e quem tem outra opinião é lunático ou burro.

Deixemos os ingleses em Londres bebendo chá e façamos um Brasil para brasileiro ver. Ou, como disse Paulo Moreira Leite, "que tal abortar a hipocrisia? http://www.viomundo.com.br/politica/paulo-moreira-leite-que-tal-abortar-a-hipocrisia.html

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A censura interna da mídia

Hoje recebi a triste notícia da demissão de Maria Rita Kehl do jornal O Estado de S. Paulo, depois de ter publicado em sua coluna, na véspera da eleição, um artigo que contraria a posição defendida pelo jornal. Na última terça-feira eu e um amigo conversamos sobre a demissão de Heródoto Barbeiro da TV Cultura, aparentemente por motivos políticos. Recomendo aos leitores, antes de mais nada, que leiam a entrevista que Maria Rita concedeu a Bob Tavares (http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4722228-EI6578,00-Maria+Rita+Kehl+Fui+demitida+por+um+delito+de+opiniao.html) e o vídeo que mostra Barbeiro colocando Serra em uma saia justa durante o programa Roda Viva (http://www.youtube.com/watch?v=TYGFSGVkK2o&feature=related).

Pois bem, antes de discutir as demissões, vou mostrar um pouco o comportamento da imprensa com relação ao governo, bem como o do governo em relação à imprensa.

Os órgãos de imprensa chamados de PIG (Partido da Imprensa Golpista, mas eu prefiro evitar o termo) devido a seus históricos duvidosos (http://vermelhosobreazul.blogspot.com/2010/10/como-midia-manipula-os-fatos.html) e a seu trabalho conjunto de distorcer os fatos para favorecer a imagem do PSDB, alegam que o governo deseja censurar a imprensa (então por que ainda não censurou?). Um bom exemplo é a alegação unanime por parte desses órgãos de imprensa que um decreto de Lula referente à punição de órgãos de imprensa que desrespeitarem os direitos humanos é o retorno da censura aos meios de comunicação e marco do início de uma ditadura do PT.

Mas que ditadura? A Folha de S. Paulo afirmou que nunca houve ditadura em nosso país, o que tivemos foi uma "ditabranda". Isso sim é um desrespeito àqueles que foram torturados e mortos pelo regime mais sangrento da história de nosso país, bem como a seus familiares. A "ditabranda" só existiu para José Serra, Fernando Henrique Cardoso e outros opositores do regime que fugiram do país antes do AI-5 e não presenciaram os momentos de maior terror, bem como jamais foram presos e torturados, tendo retornado ao Brasil somente após a anistia para entrar na política fazendo pose de heróis. Enquanto Dilma era torturada no Dops, Serra tomava cafezinho em Santiago do Chile.

O fato é que os órgãos de imprensa têm atacado sistematicamente o presidente Lula e o PT desde quando este assumiu a presidência da república, ao mesmo tempo em que demonstram simpatia pelos tucanos. Se dizem os paladinos da democracia e acusam Lula de querer censurar a imprensa (o que nunca aconteceu), mas nada falam sobre sua censura interna, a qual impede que notícias e principalmente opiniões sejam divulgadas de maneira favorável ao PT. Estes órgãos são tão democráticos que só admitem uma visão de mundo: a deles. Se algum colunista tiver opinião diferente vai logo para o olho da rua. Nossa mídia vive na época da inquisição, fazendo patrulha ideológica e punindo os hereges, pois é uma heresia ter opinião diferente.

Eis que Maria Rita Kehl publica uma opinião contrária à defendida pelo jornal no qual ela trabalhava (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101002/not_imp618576,0.php) e é demitida. O mesmo jornal que todos os dias publica a mesma reportagem "'Estado' sob censura há XXX dias", fazendo-se de vítima de uma decisão judicial que o proíbe de publicar notícias difamatórias sobre a família Sarney e tentando tirar proveito político desta decisão judicial, que nada tem a ver com o governo Lula. O mesmo jornal que apoiou o golpe de 64 e depois se mostrou como vítima dele.

O caso de Heródoto Barbeiro é outra situação: a TV Cultura é um órgão público, pertencente ao governo do estado de São Paulo e que ganhou notoriedade pela qualidade educativa e informativa de sua programação, especialmente através dos programas infantis, quase todos produzidos antes do PSDB assumir o governo paulista, e do Roda Viva, programa de entrevistas apresentado por Barbeiro. Os presidenciáveis deste ano foram convidados a participar do Roda Viva e todos foram sabatinados pelo apresentador e por jornalistas. No entanto, Serra foi questionado sobre as tarifas dos pedágios em SP, se irritou com a pergunta, desconversou e disse que o "boato" dos pedágios é invenção do PT. Pouco tempo depois, Barbeiro foi demitido e a emissora não deu explicação convincente sobre o fato. Marília Gabriela foi contratada para apresentar o programa, agora orientado à defesa do ponto de vista tucano, com direito a  dois jornalistas fixos na bancada: Augusto Nunes, com passagem pelas revistas Veja e Época e pelo jornal O Estado de S. Paulo, e Paulo Moreira Leite, da revista Época e candidato a ser o próximo demitido por sua mais recente publicação: http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite/2010/10/06/que-tal-abortar-a-hipocrisia/. Depois acusam Lula de usar o aparelho do Estado como máquina de propaganda.

Por fim, vale a pena a leitura de uma publicação de Luis Favre (http://blogdofavre.ig.com.br/2010/07/demissao-de-herodoto-barbeiro-do-roda-viva-provoca-questionamentos/), com a qual eu não concordo totalmente, mas apresenta excelentes momentos, como estes: "José Serra é conhecido por pedir a cabeça dos jornalistas que considera pouco maleáveis. Alguns já sofreram dessa repressão e intolerância do tucano com os que ousam contestar sua postura" (eis o homem que o "PIG" considera democrático) e "fica meu espanto com a soberba, intolerância, falta de espírito democrático e a má fé do candidato Serra, explícitas no vídeo".

Lembram-se do homem cordial (http://vermelhosobreazul.blogspot.com/2010/10/o-brasileiro-um-homem-cordial.html)? Ei-lo político. Ei-lo dono de jornal. Ei-lo jornalista. Age movido pelas paixões, mesmo que para isso tenha que passar por cima da ética. Ironicamente, cobra ética por parte daqueles a quem critica.