terça-feira, 23 de novembro de 2010

Liberdade de imprensa nem um pouco ameaçada.

Me diverti muito ao ler esta entrevista hoje cedo: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101122/not_imp643479,0.php. Trata-se de uma entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo, um dos maiores críticos à regulação da imprensa, que considera censura, pela consultora da UNESCO Eve Salomon.

Em primeiro lugar, é interessante notar a posição do jornal, que elabora as perguntas de forma a direcionar as respostas a um sentido favorável à opinião de que as mudanças são parte de um processo de censura, mas as respostas são brilhantes e fogem das armadilhas do jornal, que saiu derrotado nesta entrevista.

Não há nada de errado no fato do governo reclamar da mídia, pois esta, de fato, está longe de ser considerada um exemplo de jornalismo ético, comprometido com a verdade e a imparcialidade. Quando os principais órgãos de mídia adotam uma mesma posição política, é necessário algum tipo de intervenção que não os cale, mas garanta o direito de resposta às partes atingidas. Cada um tem o direito de se defender das críticas que recebe, mas esse direito, garantido pela constituição, é desrespeitado diariamente.

Um exemplo, uma certa revista semanal já publicou, em diversas ocasiões, reportagens desfavoráveis ao esperanto que reforçam clichês e deduções distantes da realidade, mas convincentes para um leigo. As reportagens, obviamente, geraram reações por parte da comunidade esperantista brasileira e estrangeira, que enviou diversas mensagens à redação desta revista. Quantas foram publicadas? Nenhuma. É um caso isolado? infelizmente está longe de ser.

E o que falar das recentes CPIs dos Correios e da Petrobrás? Quanto dinheiro público foi gasto nesses shows de demagogia que só serviram para mostrar que não havia nada de errado com essas empresas? Que escândalo os jornais fizeram! Quantos ortigos os Diogos Mainardis de plantão escreveram metendo o pau no governo com base no diz-que-diz-que? E quantos comentários dos comentaristas de TV? No fim, quando foi tudo apurado, a imprensa, que havia tomado partido em favor dos derrotados, não mostrou os fatos que estavam ali apurados cuidadosamente por pessoas autorizadas, e não por boateiros de jornal.

Um ponto importante que a mídia ignora a respeito da regulação é a forma como a punição é aplicada: no caso de censura, o órgão é impedido de publicar algo (assim como estes mesmos órgãos impedem, e portanto censuram, a publicação de certas cartas ou de artigos de colunistas que discordam do ponto de vista de seus superiores). O que se quer fazer no Brasil é criar agências reguladoras que não impeçam a reportagem de ser publicada, mas intervenham no sentido de garantir o direito de resposta das partes atingidas, bem como proteger a privacidade das pessoas, as crianças e a diversidade de opiniões. Isso é bom para o desenvolvimento da nossa democracia, que, como Sérgio Buarque já observava há quase um século, em nosso país sempre foi confundida com liberalismo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ensino do esperanto nas escolas.

Recentemente a mídia voltou a dar destaque à notícia de que há mais de 250 projetos de lei sobre educação tramitando no Congresso Nacional. Esse dado, por si só, não nos indica se isso é bom ou ruim, pois deve-se analisar também o mérito dos projetos, pois há, por exemplo, vereadores que se gabam de ser os que mais apresentam propostas, mas o que eles propõe? Mudanças de nomes de ruas, homenagens bestas a qualquer médico ou advogado falecido, distribuição de títulos de cidadão-qualquer-coisa para qualquer Dito Cujo que "prestou enormes serviços à população fritando coxinha no bar da esquina".

Analisemos o mérito dos projetos: bitolados por uma educação rígida e massacrante, jornaistas que não enxergam um palmo diante do nariz enchem suas reportagens de pré-julgamentos negativos. Assim, propostas como o ensino de xadrez, educação para o trânsito, educação ambiental, maior variedade de disciplinas eletivas de línguas e educação financeiras são logo atacadas por pessoas que não se deram o trabalho de ler as justificativas apresentadas pelos relatores nem o de se informar sobre o assunto com setores da sociedade favoráveis a tais projetos.

Há estudos que mostram, por exemplo, que xadrez contribui para o desenvolvimento do raciocínio lógico e da visão espacial. Educação para o trânsito é imperativa no ensino fundamental, pois pedrestres e ciclistas não fazem CFC, mas, pelo menos segundo o nosso código de trânsito, também estão sujeito a multas e são obrigados a conhecer a legislação. Com relação à educação ambiental, tenho o exemplo de um grupo de crianças de uma escola municipal que vi, há pouco tempo, desperdiçando copos descartáveis. Ao abordá-las para perguntar o que elas achavam da questão ambiental referente aos copos, elas simplesmente responderam "não tem problema ambiental nenhum, pois estes copos irão para a reciclagem". É ou não é necessário fazer um trabalho de conscientização sobre o meio-ambiente nas salas de aula? E assim há muito exemplos mais de como são falsos esses pré-julgamentos dos jornalistas que têm, em última instância, o objetivo de reduzir a discussão ao campo moral, ao mostrar os parlamentares como pessoas que só se preocupam com futilidades, ao invés de estimular o povo a refletir criticamente sobre as propostas. Assim, a mídia manipuladora mantém o seu papel de patrocinar o analfabetismo político do povo brasileiro.

O projeto apresentado como o cúmulo da excentricidade, no entanto, é o projeto de lei do senador Cristovam Buarque, docente da UnB e grande especialista em educação, sobre o ensino do idioma esperanto. Sempre acompanhadas de clichês como "o esperanto fracassou", "é uma língua que ninguém fala" ou simplesmente "é algo inútil". Pois bem, falo esperanto desde 2006, dou aulas deste idioma desde 2007 e é a língua que mais uso depois do português: além de usar o Facebook em esperanto, diariamente mantenho contato com amigos estrangeiros e recebo notícias sobre assuntos variados neste idioma, que ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de distribuição geográfica de línguas: somos poucos falantes, mas estamos bem espalhados pelo mundo e conseguimos localizar outros falantes com facilidade. Além disso, o esperanto é a principal ferramenta que disponho para ter contato com culturas estrangeiras, sendo que li em esperanto quase tudo o que conheço de literatura africana, chinesa, holandesa e do leste europeu. Aliás, estou lendo o livro Du Virinoj (Duas mulheres), do escritor holandês Harry Mulisch, sem tradução para o português, e o mérito literário da obra superou muito as minhas espectativas.

No entanto, outro dia fui ao banco pagar minha inscrição no Congresso PanAmericano de Esperanto (TAKE), que acontecerá em São Paulo no ano que vem, e a funcionária do caixa me perguntou se eu acredito que o esperanto será universal. Claro que não acredito, pois se através dele mantenho contato com culturas estrangeiras, isso prova que ele já é universal, embora seja pouco usado pelas instituições diplomáticas e na comunicação empresarial e não conste nos manuais multilíngues de aparelhos eletrônicos. O que falta para o esperanto ser valorizado pelo mercado é apenas apoio político, mas os governos preferem insistir em usar seu poder político para legitimar suas línguas nacionais, favorecendo uma comunicação internacional que privilegia alguns em detrimento de outros. Assim, atualmente o esperanto aproxima pessoas sem aproximar mercados. Por fim, está comprovado que o conhecimento do esperanto facilita o aprendizado de outras línguas.

Quem quiser saber mais sobre o esperanto, sugiro que assista aos vídeos da série Esperanto Estas, disponíveis na internet, no seguinte endereço: http://esperantoe.blogspot.com/. Quem quiser aprendê-lo de forma autodidata, uma boa opção é a página Lernu: http://pt.lernu.net/.

Acho muito importante que novas disciplinas eletivas sejam introduzidas no currículo escolar, bem como que este se torne cada vez mais flexível para que o aluno possa se identificar cada vez mais com o que estuda e ter espaço de levar para o ambiente escolar tudo o que aprende fora da escola e vice-versa. Assim, a evasão escolar certamente irá diminuir e os estudantes se dedicarão mais aos estudos, algo que não vem acontecendo justamente porque os muros das escolas não impedem apenas o fluxo de pessoas entre a escola e o mundo, mas barram também o fluxo de conhecimento.

sábado, 6 de novembro de 2010

Dia do Nordeste

Em resposta aos ataques dirigidos ao povo nordestino após a eleição de Dilma, brsileiros de todos os cantos participam do Dia do Nordeste, uma campanha iniciada e centralizada no Facebook, para discutir a importância do nordeste, suas belezas naturais e sua riqueza cultural que nos encanta e surpreende.

A canção Paratodos, de Chico Buarque (http://www.youtube.com/watch?v=OgqerejOJdc), nos dá uma idéia da importância desta região do Brasil: grandes intelectuais e artistas do sul e do sudeste descendem de famílias nordestina, com ele próprio (Sobre isto, ver Bartolomeu Buarque de Holanda. Buarque: Uma família Brasileira: Ensaio histórico-genealógico. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007). A letra de Paratodos, além de discutir a herança genética nordestina, presente em quase todos os brasileiros, também discute a importância desta região para a formação de nossa cultura. Nordeste é terra de Caymmi, João Gilberto, Jackson do Pandeiro, Hermeto Paschoal, Betânia e tantos outros grandes nomes da nossa música.

Mas a riqueza cultural do nordeste vai muito além do baião, do xote, do trio elétrico, dos frevos, maracatus, maculelês e tantos ritmos e danças típicas. A culinária nordestina é riquíssima, e as bebidsa típicas da região são igualmente variadas e deliciosas. Gilberto Freyre, ao discutir a formação cultural do Brasil, sempre enfatizou a importância do nordeste neste processo, bem como recheou seus livros com receitas deliciosas da culinária nordestina. E Gilberto Freyre, pernambucano, é um dos maiores intelectuais de nosso país, que, nas horas vagas, se dedicava à fabricação (e à degustação também) de licor de pitanga, outra maravilha do nordeste.

E o que dizer, então, de poetas como Zé Limeira, o poeta do absurdo, maior repentista do sertão da Paraíba e de tantos outros escritores que se dedicam à literatura de cordel, tão nordestina e tão especial, única e atual? As capas do folhetins de cordel são decoradas com xilogravuras típicas do nordeste, e discutem o modo de vida do nordestino, política, lendas e mitos brasileiros e tudo o que se pensar em termos de atualidades. O cordel tem uma riqueza que nos encanta e surpreende. E na poesia tradicional, o nordeste nos deu, dentre tantos outros, Manuel Bandeira e João Cabral de Mello Neto.

O nordeste tem paisagens magníficas e únicas, como os lençóis maranhenses, Fernando de Noronha, a chapada diamantina, as praias onde os paulistas passam as férias e a arquitetura colonial de antigas capitais como Recife e Salvador. O nordeste é um cartão-postal do Brasil e sua beleza encanta o mundo.

Além das belezas que a natureza criou nesta região tão especial de nosso país, há outra beleza que encanta ainda mais: o povo nordestino, tão alegre, capaz de ser feliz mesmo nos momentos mais difíceis. Um povo guerreiro, que tem coragem tanto para enfrentar a seca quanto para deixar sua terra e ir sozinho pelo mundo em busca de oportunidades, suportando os preconceitos, sofrendo de saudade, trabalhando duro para ganhar o pão de cada dia sem jamais perder sua alegria tão característica de uma gente apaixonada pela vida. Como não se emocionar quando, ao comentar uma foto da capital pernambucana postada no Dia do Nordeste no Facebook, recebemos a resposta "O Recife tem um lugar pra você no seu coração"? O nordestino é assim: recebe todos de braços abertos, adora mostrar ao mundo sua cultura, as belezas de sua terra e sua alegria de viver.

Quando se fala em Movimento Modernista, a primeira imagem que vem à cabeça é a Semana de Arte Modernano Teatro Municipal de São Paulo. Contudo, o principal objetivo de tal movimento, a busca das origens da cultura brasileira, a essência da brasilidade, para a partir daí se criar uma arte genuinamente nacional, levou os modernista aonde? A Minas, ao norte e ao nordeste. Foi nestes lugares que Mário de Andrade conheceu a literatura de cordel, adquiriu suas obras de arte (atualmente no IEB-USP, a coleção é composta por peças do barroco mineiro, artesanato indígena, carrancas nordestinas, dentre muitas outras coisas), estudou a fala do brasileiro, nossas tradições culturais, nossas lendas etc. Basta ler Macunaíma para ver o quanto de cultura nortista e nordestina está presente naquela obra, tão brasileira.

Há paulistas que culpam os nordestinos pelas favelas de SP, os chamam de vagabundos, analfabetos e tantas outras coisas que não vale a pena reproduzir aqui. Mas são esses mesmos nordestinos que constróem os prédios de SP. Eles são os porteiros, os pedreiros, os motoristas de ônibus, os operários, enfim, são eles que fazem SP. Estudo na Unicamp, considerada uma das melhores universidades do mundo, e tenho orgulho de dizer que diversos professores da minha universidade são nordestinos.

Muito mais há para ser dito sobre o nordeste, mas termino por aqui e deixo a você esta maravilha nordestina: http://www.youtube.com/watch?v=datA5JD5mTg

Feliz dia do nordeste! Manifeste-se!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O ódio dos derrotados

Democracia é uma palavra de origem grega e significa "poder do povo" (demos = povo, kratos = poder). Portanto, o objetivo final de um regime democrático é dar voz a todos, permitir que cada um se manifeste de acordo com suas próprias convicções, mas, como é impossível agradar a todos, a decisão final se baseia na vontade da maioria.

Sérgio Buarque de Holanda atentava para a confusão entre democracia e liberalismo, tão comum na sociedade brasileira. É justamente esta confusão que sustenta o frágil argumento de que democracia consiste em rotatividade do poder. Não. Democracia é o poder do povo, no caso do Brasil, exercida de forma representativa, ou seja, damos ao legislativo o poder de nos representar nas votações que definem os rumos do país, além de elegermos os principais cargos do poder executivo: prefeito, governador e presidente da república.

O fato é que, até do fim da ditadura militar, só se respeitavam os valores democráticos enquanto estes não entrassem em conflito com interesses das elites. Somente após a redemocratização do país é que a verdadeira democracia passou a florescer entre nós, visto que agora todos os brasileiros possuem representação política, reivindicam, fiscalizam o poder público e vão às urnas escolher seus governantes.

Os direitos políticos que os brasileiros de hoje possuem são fruto de uma luta histórica pela qual muitos brasileiros foram torturados e até mortos. Luta de um povo formado por pobres e ricos, das mais diversas raças e credos religiosos, e que se desenvolveu em todo o território nacional, nas ruas, nas universidades, nas igrejas, nas fábricas, enfim, em diversos espaços diferentes, cada um com uma característica específica, mas em todos os lugares havia uma mesma luta e um mesmo ideal. E assim nosso povo conquistou a liberdade e a democracia.

Por isso, é lamentável que parte da nossa sociedade queira um retrocesso. Se, durante a campanha de Serra à presidência da república, percebi em muitos de seus aliados políticos e eleitores um sentimento de nostalgia da ditadura, após a confirmação de Dilma como nossa nova presidente, recebi a confirmação disso: incitados por Mayara Petruso et al., diversos internautas começaram a publicar no twitter o que há de mais condenável em termos de preconceito. Ao invés de celebrarem a democracia, se recusaram a aceitar a derrota do candidato apoiado por eles e passaram a incitar o ódio aos nordestinos, aos pobres e às raças não européias, "culpando-os" (é vergonhoso votar?) pela escolha da candidata que não era da preferência deles. Eis uma pequena coletânea da barbárie: http://www.youtube.com/watch?v=tCORsD-hx0w

Em primeiro lugar, cada um deve votar segundo suas próprias preferências. É necessário respeitar a liberdade de opinião e de pensamento de cada um e aprender a não discriminar ninguém por ter outra visão de mundo. Com que direito uma pessoa afirma que a outra "não sabe votar", sendo tal constatação fruto de suas convicções pessoais? Aí entra o argumento do "eu tenho estudo". E daí? democracia é para todos, eu também tenho estudo e votei na Dilma. Aliás, os maiores intelecutuais brasileiros votaram nela (eis alguns exemplos: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-manifesto-dos-intelectuais). Ambos candidatos receberam votos em todos os municípios do Brasil, incluindo o "Sul-Sudeste", onde, segundo a turma de Mayara, "se sabe votar".

O discurso dessas pessoas é contraditório do começo ao fim. São Paulo, Minas e Rio de Janeiro são colégios eleitorais muito maiores do que qualquer estado nordestino. No Rio, Dilma dominou, Minas ficou dividido e em São Paulo, tradicional reduto tucano, a vantagem de Serra foi pequena. Se o tal "sul-sudeste" realmente tivesse escolhido Serra, a vitória de Dilma no nordeste teria sido inútil. Além disso, Dilma venceu em metade do território dos estados do "sul-sudeste" (http://www.estadao.com.br/especiais/mapa-da-votacao-para-presidente-nos-municipios,123626.htm) e é só fazer as contas para perceber que mesmo sem nordeste ela teria sido eleita.

A crença de que nordestino vende o voto por um saco de arroz é outra bobagem que só nos mostra quão grande é a ignorância dessas pessoas, incapazes de perceber o óbvio: enquanto tradicionais caciques da política nordestina não foram eleitos, São Paulo deu mais de 400.000 votos a Paulo Maluf. Dirão que o Pará elegeu Jader Barbalho, prova do atraso daquele estado. Ok, mas São Paulo, terra da maioria dessas pessoas que odeiam os nordestinos e os analfabetos, elegeu Tiririca, nordestino e supostamente analfabeto, para representá-lo na câmara. Além disso, nas últimas eleições, São Paulo foi o campeão em eleger parlamentares exóticos e "celebridades", como Clodovil, Frank Aguiar e Agnaldo Timóteo. Grande contraste com a "atrasada" Bahia, onde ridículos como o Da Luz, que aparecia no horário eleitoral com lâmpadas penduradas no corpo, jamais foram eleitos.

 Os antidemocráticos também manifestaram a crença de que no nordeste os eleitores vivem, todos, no semi-árido e no norte só existem índios. Aos que acreditam nessa bobagem, sugiro que troquem uma hora de twitter pela página do IBGE, onde há o cidades@, que nos mostra onde ficam os municípios mais populosos (no nordeste, ficam no litoral, seguidos pela Zona da Mata e pelo Agreste. Uma percentagem muito pequena da população vive no semi-árido. No norte, as cidades se concentram às margens dos rios e, em ambas as regiões, há grande concentração populacional nas capitais). Nestas regiões há, sim, educação pública para todos ou quase todos, o analfabetismo vem diminuindo e, nas duas edições da Olimpíada Nacional em História do Brasil, o nordeste foi mais premiado do que as demais regiões do país (http://www.mc.unicamp.br/2-olimpiada/premiacoes/index).


Quanto a instituir o voto censitário, não vejo motivo. Em primeiro lugar, cada um, na condição de cidadão, tem o direito de eleger seus governantes. Se um pobre tem preferência por algum candidato é porque, mesmo tendo pouca instrução, percebe que as políticas defendidas pelo candidato o beneficiarão. Quem tem diploma age de outra forma na hora de escolher em quem votar?


Além disso, é curioso notar que a cidade onde Serra teve o maior percentual de votos está situada no norte do país: trata-se de Rio Branco, capital do Acre. Mas não é lá a "terra dos índios vagabundos que vivem às custas do bolsa-família pago pelo sul-sudeste"? Não é lá que "só tem burros analfabetos dispostos a tocar o voto por um saco de arroz"? Como explicar ter sido justamente lá o palco da maior vitória do "candidato dos inteligentes" contra a "candidata dos ignorantes"?

Por fim, diante de tantos comentários do tipo "agora nós do sul-sudeste teremos que continuar trabalhando para sustentar nordestino vagabundo com bolsa-família", faço uma pergunta a essas pessoas: se são contra o bolsa-família, por que motivo votaram no candidato que prometeu não apenas manter o programa, mas também dobrar o valor dessas bolsas, criar 13o e ainda por cima aumentar a quantidade de bolsas oferecidas?

A OAB-PE entrou hoje com representação criminal contra Mayara na justiça paulista. Ao ler notícia sobre isso (http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=878557), me espantei ao descobrir que ela é estudante de direito, tendo agido, portanto, de forma contrária à função social de sua futura profissão. Que seja julgada de forma democrática, apesar de ela não gostar da democracia, e sua condenação, iminente diante de tantas provas e testemunhas de seu ato, sirva de exemplo para coibir atos semelhantes.

O episódio protagonizado por Mayara me fez lembrar de uma ação de um grupo neonazista em São Paulo, há cerca de uma década, quando picharam o local com ameaças aos nordestinos que vivem em São Paulo. Ben Abraham, imigrante polonês vítima do nazismo acredita que, quando não denunciamos a perseguição às minorias, damos carta branca para que a barbárie continue acontecendo (http://ditaduranazista.blogspot.com/).

Por fim, recomendo a leitura do artigo de Maria Rita Kehl que resultou em sua demisssão do Jornal O Estado de S. Paulo. Sua leitura e a posterior demissão de sua autora evidenciam que comportamentos como o de Mayara são incentivados por uma mídia que reforça estereótipos e mitos relacionados ao norte e ao nordeste e cala quem ousa defendê-los (Artigo: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/maria-rita-kehl-dois-pesos.html Entrevista com a autora: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4722228-EI6578,00-Maria+Rita+Kehl+Fui+demitida+por+um+delito+de+opiniao.html).