segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ensino do esperanto nas escolas.

Recentemente a mídia voltou a dar destaque à notícia de que há mais de 250 projetos de lei sobre educação tramitando no Congresso Nacional. Esse dado, por si só, não nos indica se isso é bom ou ruim, pois deve-se analisar também o mérito dos projetos, pois há, por exemplo, vereadores que se gabam de ser os que mais apresentam propostas, mas o que eles propõe? Mudanças de nomes de ruas, homenagens bestas a qualquer médico ou advogado falecido, distribuição de títulos de cidadão-qualquer-coisa para qualquer Dito Cujo que "prestou enormes serviços à população fritando coxinha no bar da esquina".

Analisemos o mérito dos projetos: bitolados por uma educação rígida e massacrante, jornaistas que não enxergam um palmo diante do nariz enchem suas reportagens de pré-julgamentos negativos. Assim, propostas como o ensino de xadrez, educação para o trânsito, educação ambiental, maior variedade de disciplinas eletivas de línguas e educação financeiras são logo atacadas por pessoas que não se deram o trabalho de ler as justificativas apresentadas pelos relatores nem o de se informar sobre o assunto com setores da sociedade favoráveis a tais projetos.

Há estudos que mostram, por exemplo, que xadrez contribui para o desenvolvimento do raciocínio lógico e da visão espacial. Educação para o trânsito é imperativa no ensino fundamental, pois pedrestres e ciclistas não fazem CFC, mas, pelo menos segundo o nosso código de trânsito, também estão sujeito a multas e são obrigados a conhecer a legislação. Com relação à educação ambiental, tenho o exemplo de um grupo de crianças de uma escola municipal que vi, há pouco tempo, desperdiçando copos descartáveis. Ao abordá-las para perguntar o que elas achavam da questão ambiental referente aos copos, elas simplesmente responderam "não tem problema ambiental nenhum, pois estes copos irão para a reciclagem". É ou não é necessário fazer um trabalho de conscientização sobre o meio-ambiente nas salas de aula? E assim há muito exemplos mais de como são falsos esses pré-julgamentos dos jornalistas que têm, em última instância, o objetivo de reduzir a discussão ao campo moral, ao mostrar os parlamentares como pessoas que só se preocupam com futilidades, ao invés de estimular o povo a refletir criticamente sobre as propostas. Assim, a mídia manipuladora mantém o seu papel de patrocinar o analfabetismo político do povo brasileiro.

O projeto apresentado como o cúmulo da excentricidade, no entanto, é o projeto de lei do senador Cristovam Buarque, docente da UnB e grande especialista em educação, sobre o ensino do idioma esperanto. Sempre acompanhadas de clichês como "o esperanto fracassou", "é uma língua que ninguém fala" ou simplesmente "é algo inútil". Pois bem, falo esperanto desde 2006, dou aulas deste idioma desde 2007 e é a língua que mais uso depois do português: além de usar o Facebook em esperanto, diariamente mantenho contato com amigos estrangeiros e recebo notícias sobre assuntos variados neste idioma, que ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de distribuição geográfica de línguas: somos poucos falantes, mas estamos bem espalhados pelo mundo e conseguimos localizar outros falantes com facilidade. Além disso, o esperanto é a principal ferramenta que disponho para ter contato com culturas estrangeiras, sendo que li em esperanto quase tudo o que conheço de literatura africana, chinesa, holandesa e do leste europeu. Aliás, estou lendo o livro Du Virinoj (Duas mulheres), do escritor holandês Harry Mulisch, sem tradução para o português, e o mérito literário da obra superou muito as minhas espectativas.

No entanto, outro dia fui ao banco pagar minha inscrição no Congresso PanAmericano de Esperanto (TAKE), que acontecerá em São Paulo no ano que vem, e a funcionária do caixa me perguntou se eu acredito que o esperanto será universal. Claro que não acredito, pois se através dele mantenho contato com culturas estrangeiras, isso prova que ele já é universal, embora seja pouco usado pelas instituições diplomáticas e na comunicação empresarial e não conste nos manuais multilíngues de aparelhos eletrônicos. O que falta para o esperanto ser valorizado pelo mercado é apenas apoio político, mas os governos preferem insistir em usar seu poder político para legitimar suas línguas nacionais, favorecendo uma comunicação internacional que privilegia alguns em detrimento de outros. Assim, atualmente o esperanto aproxima pessoas sem aproximar mercados. Por fim, está comprovado que o conhecimento do esperanto facilita o aprendizado de outras línguas.

Quem quiser saber mais sobre o esperanto, sugiro que assista aos vídeos da série Esperanto Estas, disponíveis na internet, no seguinte endereço: http://esperantoe.blogspot.com/. Quem quiser aprendê-lo de forma autodidata, uma boa opção é a página Lernu: http://pt.lernu.net/.

Acho muito importante que novas disciplinas eletivas sejam introduzidas no currículo escolar, bem como que este se torne cada vez mais flexível para que o aluno possa se identificar cada vez mais com o que estuda e ter espaço de levar para o ambiente escolar tudo o que aprende fora da escola e vice-versa. Assim, a evasão escolar certamente irá diminuir e os estudantes se dedicarão mais aos estudos, algo que não vem acontecendo justamente porque os muros das escolas não impedem apenas o fluxo de pessoas entre a escola e o mundo, mas barram também o fluxo de conhecimento.

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